Com o projeto intitulado “Abordagens etnográficas ao estudo da branquitude e da sexualidade em Salvador”, pesquisadora discute a formação identitária individual.
POR GILBERTO RIOS*
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Teóricos mais conservadores das Ciências Sociais costumam retratar a construção de identidades específicas (como a étnica, sexual ou econômica) como se elas construídas de forma atomizada. É como se a integralidade do sujeito fosse um constructo parcial: primeiro se constrói, por exemplo, a identidade étnica, depois a sexual e assim por diante. Mas para Elena Calvo-Gonzalez, a formação identitária só é individual porque é um processo resultante de diversas viáveis que se dão simultaneamente. Esse ponto de vista é crucial para a pesquisa que desenvolve acerca da formação das branquitudes. Elena é formada em Antropologia, e trabalha no Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Sua trajetória de pesquisa sempre foi mais voltada às pesquisas relacionadas à etnografia de política. Essa parte de sua história com Sociologia e etnografia de movimentos sociais foi o que a levou, junto com outros interesses de pesquisa, a fazer a relação entre as diversas raças, classes e sexualidades a pesquisar o campo da imbricação entre essas variáveis sociais e a constituição das branquitudes. Foi isso que a deu subsídios para produzir seu atual projeto de pesquisa, intitulado “Abordagens etnográficas ao estudo da branquitude e da sexualidade em Salvador”.
“Olhamos para o político nas suas manifestações de engajamento público. Não é somente o cotidiano enquanto político, mas também o que os atores da pesquisa falam enquanto atividade política que é considerada por eles como tal”, explicou Elena sobre a metodologia usada em seu trabalho. Essa pesquisa faz parte de um projeto de pesquisa mais amplo financiado pelo CNPQ sobre a visibilidade de corpos diferentes e como essas visibilidades têm um impacto tanto no cotidiano quanto no político. Este é o objetivo desse projeto mais amplo do CNPQ.
O objetivo do projeto é pesquisar de que maneira essa relação entre as noções de raça – especificamente as branquitudes – são reformuladas a partir de noções de espaço e sexualidade. Essa pesquisa é desenvolvida em duas áreas da cidade. Uma delas é tida como uma área de classe-média média e classe-média alta, e outra é considerada de classe-média baixa e popular. “Depois de analisá-las, é feita uma comparação entre elas para saber se há um contraste entre ambas e em que nível essa diferenciações são dadas para poder pensar de que maneira tanto o espaço condiciona como os corpos vivenciam e são interpretados”, contou a pesquisadora. Elena continua: “uma vez que não dá para fazer uma separação e dizer que existe um tipo de branquitude ou um tipo de homossexualidade ou heterossexualidade, entra-se na multiplicidade. Mas é preciso considerar também o espaço, seja ele público ou privado, na constituição desses sujeitos”, enfatizou.
“Esse é um conceito que, por exemplo, no campo das relações raciais, quando se pensa nas branquitudes ou mesmo em negritudes, faz-se no singular. Mas será que existe uma identidade étnica negra? Será que há somente uma maneira de ser branco, uma única branquitude? Da mesma maneira que a gente pensa, por exemplo, em etnicidade a depender da classe, é preciso pensar a sexualidade. Não é que exista uma condição de sexualidade que vai sendo preenchida por noções de raça, etnicidade, classe ou função social, mas que todas elas vão se construindo simultaneamente e juntas”, respondeu Elena quando a questionamos sobre como é possível dar conta de tantas variáveis. “Pensar elas em categoriais segmentadas que levam a uma experiência única seria reduzir esses estudos a algo intangível à realidade”, disse.
Mas como se pesquisa multiplicidade? Primeiro, escolhe-se algumas variáveis para, a partir dela, começar a fazer a pesquisa empírica. Depois de feita, é o campo quem diz de que maneira se relacionam e como essas variáveis e experiências sugerem que elas são estruturadas de fato.
Até então, Elena e os demais desenvolvedores do projeto ainda estão em fase de coletas dos dados de campo. O método utilizado é o de observação participante em espaços públicos e privados. “Primeiro, é preciso identificar alguns atores chaves que foram percebidos nesse contexto e até que ponto seria interessante entrevistá-los”, explicou a pesquisadora. Depois disso, eles produzem diários de campo com observações do cotidiano e dessas interações realizadas durante o período esse período.
A previsão é que em 2012 os pesquisadores já tenham alguns produtos dessas pesquisa. O projeto prevê a criação de um livro com os artigos individuais a serem publicados em revistas de divulgação científica.
*Gilberto Rios é estudante de Jornalismo da Facom – UFBA e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.