Tecnologias digitais como fotogrametria, modelagem geométrica, sistemas gerenciadores de base de dados, hipermídia e 3D laser scanning são utilizadas por pesquisadores da Ufba para tentar resgatar um dos patrimônios histórico mais ricos do Brasil
Por *Priscila Machado
O Grupo de Pesquisa em Documentação Arquitetônica, ligado ao Laboratório de Computação Gráfica Aplicada à Arquitetura e ao Desenho (LCAD) realiza, desde 2004, a documentação de conjuntos arquitetônicos do estado da Bahia com o uso de tecnologias digitais, constituindo uma base de dados multimídias sobre as edificações de interesse histórico e cultural do Estado. O grupo faz parte do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Faculdade de Arquitetura.
A pesquisa, coordenada pelo professor Arivaldo Amorim, visa preservar a memória do patrimônio arquitetônico baiano, um dos mais ricos do Brasil. O grupo de pesquisa é composto por aproximadamente 20 pessoas, que através de tecnologias digitais como a Fotogrametria, a Modelagem Geométrica, o CAD, os Sistemas Gerenciadores de Base de Dados, a Hipermídia e o 3D Laser Scanning, registra informações da arquitetura de edificações históricas, contribuindo para a preservação e a restauração do patrimônio.
Inicialmente, o trabalho está sendo realizado em alguns sítios históricos da Bahia, como o Pelourinho, as cidades de Cachoeira – desde 2009 – Lençóis e Rio de Contas na Chapada Diamantina. Em Salvador, uma das edificações documentada foi a Igreja de São Francisco.
O trabalho em documentação envolve etapas como planejamento e levantamento de dados. Depois de processados e armazenados, esses dados são publicados na web e servem de fonte de estudo não só para arquitetos, como para historiadores, e outros interessados.
AMEAÇA AOS EDIFICIOS - Amorim explica que o acervo arquitetônico está sujeito a várias ameaças devido a ações antrópicas e na maioria das vezes a fenômenos naturais, como chuva, ataque de insetos, deslizamento de terra e incêndio. A idade do edifício também é um fator que contribui muito para a própria deterioração, já que as instalações elétricas e a estrutura ficam comprometidas devido à falta de conservação.
Em Salvador, existem vários exemplos de destruição de edifícios por conta da chuva e do incêndio. Em 1969, por exemplo, o Mercado Modelo foi vítima de um incêndio que comprometeu a estrutura do prédio de tal forma que foi preciso demolir o antigo imóvel e reconstruir um novo mercado no prédio da antiga alfândega. “Não há um registro técnico detalhado da arquitetura do antigo mercado que permitisse realizar um restauro, ainda que esta tivesse sido a decisão na época”, conta Amorim. Já na década de 80 foi realizada uma reforma no prédio devido a um novo incêndio.
Um dos casos mais recentes de desabamento de edificação antiga ocorreu em agosto de 2010, quando um casarão na ladeira da Conceição da Praia desabou, deixando uma pessoa morta e três feridas. O prédio era tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN), mas estava condenado pela defesa civil desde 2008.
POLÍTICAS PÚBLICAS - Nos últimos anos o Ministério da Cultura (MinC) lançou o Programa Monumenta, um projeto que tem por finalidade recuperar o patrimônio cultural urbano brasileiro. Em Cachoeira, por exemplo, foram investidos 7,7 milhões na recuperação de algumas edificações e a previsão é que esses valores cheguem a 24 milhões, segundo o website do projeto. Para Amorim, essas iniciativas são importantes para a valorização, a recuperação e a preservação do patrimônio, contudo, ele desconhece quaisquer esforços por parte do governo em produzir documentação sistemática das edificações, que sirva tanto como documento de estudo, como exemplar de trabalho para a recuperação.
Outra medida de proteção é o tombamento do patrimônio realizado pelo IPHAN, que visa com isso, preservar a memória do local. Segundo Amorim o tombamento é uma medida que permite certo grau de proteção, mas não efetivamente a conservação do local.
Quando uma edificação é tombada, o projeto de restauro, de adequação ou de eventuais modificações são acompanhadas e fiscalizadas pelo órgão competente, que se dispõe também a prestar assistência técnica. Entretanto, mesmo que o trabalho de recuperação do imóvel tenha sido feito de forma satisfatória, isto não garante a conservação efetiva do imóvel. Por conta disso, muitas vezes, mesmo com o tombamento, o patrimônio é degradado por atos de vandalismo, ou até mesmo, são destruídos por incêndio, chuvas e outros agentes.
Amorim conta que muitos casarões estão totalmente abandonados no centro histórico, onde os proprietários aguardam pela ruína completa do imóvel para dar ao terreno destinos mais rentáveis. “O u de salva-guarda culminando em possoprimeiro aspecto disto é que nós não temos uma cultura de preservar, o outro é que não há pessoas e recursos suficientes para fazer frente ao tamanho do patrimônio que nós temos” relata Amorim.
*Estudante de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba