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Atualizado em 13 DE maio DE 2012 ás 19:51

Pesquisadora defende discussão sobre o uso de agrotóxicos

Bahia não possui programa de monitoramente de agrotóxicos nos alimentos e o incentivo a agricultura familiar seria a melhor forma de garantir a segurança alimentar no estado.

MIRIANE SILVA*
mirianesilva2@gmail.com

O uso de agrotóxicos no Brasil começou a ser difundido em meados da década de 1940 quando o país importou os primeiros produtos.  Atualmente o Brasil é o maior mercado mundial de agrotóxicos. Para falar de agricultura familiar, merenda escolar e uso de agrotóxicos foi realizando o I Seminário sobre o tema na Bahia. A professora Neuza Maria Miranda, pesquisadora da área de Toxicologia dos Alimentos na Universidade Federal da Bahia, fala dos estudos sobre o tema e da importância do Dossiê da ABRASCO (Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva) e, da realização do primeiro seminário no estado.

“A realização do seminário tem o intuito de dar visibilidade, mostrar e informar a população dos riscos e perigos que estamos correndo e, do desconhecimento quanto ao uso dos agrotóxicos. Nós desconhecemos de fato o impacto deste modelo atual. Um modelo perverso que privilegia cinco ou seis cultivos para exportação, principalmente a soja, que é responsável por 50% do uso de agrotóxicos no Brasil”. Segundo a pesquisadora o modelo é perverso porque a soja produzida no país é exportada para a Europa e Estados Unidos para alimentação bovina, retornando para o Brasil em forma de derivados da carne como NUGGET ou hambúrguer.

A pesquisadora destaca a importância de seminários que abordem a temática e do dossiê da ABRASCO como forma de disponibilizar informação quanto à qualidade dos alimentos e, como esta afeta a saúde humana. “Na realidade, a gente fica muito incomodado com o fato de que, quantas pessoas terão acesso a esse tipo de informação?”, questionou a pesquisadora. “Então isso é uma cruzada a favor da qualidade de vida e da saúde da população”.

O uso dos agrotóxicos suscita estudos e monitoramento dos efeitos no meio ambiente e na saúde humana. Segundo Neuza Miranda, nos EUA e em países da Europa “ há uma tradição maior nos estudos sobre agrotóxicos. A fiscalização dos registros dos casos ocorre de uma forma mais eficiente. Existe realmente uma vigilância ambiental e da saúde humana”. No Brasil, como informa a pesquisadora estes estudos são incipientes. “ Na Bahia, por exemplo, não existe um programa de análise de agrotóxicos. Não há um programa de monitorização de alimentos nem da água”.  Neuza Miranda destacou as ações dos estados de São Paulo e Paraná que tem estudos próprios sobre os índices de agrotóxicos em alimentos. “São exemplos de estados que já desenvolvem seus programas locais de monitorização de alimentos”.

De acordo com o dossiê da ABRASCO após exposição aos agrotóxicos, mesmo que os ingredientes ativos possam ser classificados como médio ou pouco tóxico, o indivíduo pode apresentar efeitos crônicos que podem ocorrer em meses, anos ou até décadas após a exposição, manifestando-se em várias doenças como: cânceres, malformação congênita, distúrbios endócrinos e mentais, problemas neurológicos e desregulação hormonal. O estudo mostrou que existem quatorze tipos de agrotóxicos proibidos ou que estão em processo de reavaliação para serem banidos no mundo. No Brasil há o Endossulfam que será proibida a comercialização em 2013. Este produto apresenta alta toxicidade aguda, suspeita de desregulação do sistema endócrino e toxicidade reprodutiva. Além deste, os tipos Tricloform e Metamidofós foram proibidos de serem comercializados em 2010 e 2012 respectivamente.

Desconhecimento

A professora Neuza Miranda destacou ainda que a maior parte dos trabalhadores que manipulam agrotóxicos no Brasil tem baixa escolaridade. “Não há como haver aplicação segura de agrotóxicos. É o indivíduo com baixa escolaridade, que não sabe ler a bula e não sabe como se faz o preparo adequado desses venenos. Então, é um verdadeiro absurdo o que acontece no Brasil”.

Neuza Miranda disse ainda que há um desconhecimento por parte dos profissionais da saúde quanto aos sintomas de intoxicação por agrotóxico.  A pesquisadora apontou que não tem uma disciplina específica e, com isso os profissionais não sabem diagnosticar, tratar e prevenir a contaminação. Neuza Miranda lembrou que o único local no estado para atendimento de pessoas com intoxicação por agrotóxicos e outras substâncias químicas fica localizado no Hospital Roberto Santos, onde funciona o CIAVE (Centro Antiveneno da Bahia).

Diversificação da agricultura

Segundo a professora Neuza Miranda, a agricultura diversificada baseada em práticas agroecológicas, que não faz uso de fertilizantes ou agrotóxicos já provou que é produtiva. O incentivo a agricultura familiar seria a melhor forma de se garantir a segurança alimentar, pois é o conjunto de práticas como rotação de cultura, uso de adubos orgânicos que garantem o fornecimento de alimentos mais saudáveis. A pesquisadora frisou ainda que a mudança de um sistema que privilegia a monocultura para outro que incentiva a agricultura familiar deve passar por uma decisão politica e, para tanto deve haver a mobilização da sociedade.

*Miriane Silva é estudante de Jornalismo da FACOM-UFBA

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