Estudos comparativos entre diferentes países, realizados pela pesquisadora americana, Halifu Osumare, da Universidade da Califórnia, trazem questões sobre aspectos atuais do hip hop, e apresenta dados positivos sobre movimento, apesar da sua marginalização.
POR EDVAN LESSA*
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O Hip O Global e a Diáspora Africana é objeto de pesquisa da Professora PhD e Diretora do Programa de Estudos Africanos e Afro-americanos (Universidade da Califórnia) Halifu Osumare. A estudiosa que possui pelo menos 15 trabalhos publicados sobre o movimento hip hop realizou estudos sobre os grupos de rap brasileiros e cubanos, e defende que estes vêm ganhando força.
Halifu Osumare que esteve no Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (FFCH-UFBA) no dia 19 de abril, associou a difusão do movimento hip hop à diáspora, fenômeno sociocultural ocorrido em países – a exemplo da África, em função da imigração induzida de negros. A pesquisadora, que realiza comparativos entre esse estilo em alguns lugares do mundo, acredita que em qualquer país que o hip hop surge, ele é uma forma de celebrar a música e a dança afrodiaspórica, já que sua essência é composta por formas expressivas de representação.
“Os envolvidos no hip hop são pessoas relegadas às margens da sociedade, onde existem muitas desigualdades”, explica Osumare. O movimento é composto não só pelo indivíduo – que recebe o nome de rapper – mas também pela dança (break), música (rap) e manifestação artística (grafitte), mas, quando visto apenas por essa perspectiva marginal, é considerado pela pesquisadora como subversivo.
No caso do Brasil, Osumare acredita que o movimento desafia a ideia de uma democracia racial, já que os grupos de rap estão muito mais estabilizados, em relação a Cuba, país onde o grupo Orishas, por exemplo, é um dos poucos que negociam as restrições estabelecidas sobre movimentos culturais nesse sentido. A Diretora do Programa de Estudos Africanos e Afro-americanos vê de forma positiva o fato de os jovens rappers em ambos os países promoverem um hip hop com raiz africana, apesar dos elementos culturais americanos estarem cada vez mais difundidos pelo mundo. “Nos EUA o rap se tornou muito comercial. É uma indústria de bilhões de dólares”, acrescentou.
Não só no Brasil ou em Cuba, o hip hop carece de programas ou entidades que contribuam para a sua descriminalização e ruptura dos estereótipos construídos pela mídia, e reafirmados pela sociedade dominante. Halifu Osumare acredita, no entanto, que essa realidade – na qual o movimento é criminalizado – vai mudar, e destaca a importância de se pensar maneiras de garantir que o movimento se mantenha como porta voz da sua comunidade de origem. “É importante manter o controle da comunidade sobre esse estilo”, enfatiza.
Raras publicações contemplam o hip hop no Brasil. Na Bahia, apenas alguns estudos buscam somar com a literatura sobre o movimento, como os desenvolvidos pela Professora Lícia Barbosa (Universidade do Estado da Bahia), que analisa as mulheres no hip hop em Salvador. Halifu Osumare completa: “O hip hop é sempre um assunto complexo, (além disso), ao contrário da visão oficial que afirma não haver nada com nada (nesse estilo), ela engloba todos os assuntos”.
Site e email da pesquisadora Halifu Osumare: http://www.halifuosumare.com/ / hosumare@ucdavis.edu
* Edvan Lessa é estudante de Comunicação – Jornalismo da Faculdade de Comunicação, na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura -UFBA.