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Atualizado em 26 DE abril DE 2012 ás 18:37

Hip Hop desafia ideia de democracia racial, defende pesquisadora

Estudos comparativos entre diferentes países, realizados pela pesquisadora americana, Halifu Osumare, da Universidade da Califórnia, trazem questões sobre aspectos atuais do hip hop, e apresenta dados positivos sobre movimento, apesar da sua marginalização.

POR EDVAN LESSA*
lessaedvan@gmail.com

O Hip O Global e a Diáspora Africana é objeto de pesquisa da Professora PhD e Diretora do Programa de Estudos Africanos e Afro-americanos (Universidade da Califórnia) Halifu Osumare. A estudiosa que possui pelo menos 15 trabalhos publicados sobre o movimento hip hop realizou estudos sobre os grupos de rap brasileiros e cubanos, e defende que estes vêm ganhando força.

Halifu Osumare que esteve no Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (FFCH-UFBA) no dia 19 de abril, associou a difusão do movimento hip hop à diáspora, fenômeno sociocultural ocorrido em países – a exemplo da África, em função da imigração induzida de negros. A pesquisadora, que realiza comparativos entre esse estilo em alguns lugares do mundo, acredita que em qualquer país que o hip hop surge, ele é uma forma de celebrar a música e a dança afrodiaspórica, já que sua essência é composta por formas expressivas de representação.

“Os envolvidos no hip hop são pessoas relegadas às margens da sociedade, onde existem muitas desigualdades”, explica Osumare. O movimento é composto não só pelo indivíduo – que recebe o nome de rapper – mas também pela dança (break), música (rap) e manifestação artística (grafitte), mas, quando visto apenas por essa perspectiva marginal, é considerado pela pesquisadora como subversivo.

Professora Halifu Osumare, em evento realizado no Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (FFCH-UFBA).

No caso do Brasil, Osumare acredita que o movimento desafia a ideia de uma democracia racial, já que os grupos de rap estão muito mais estabilizados, em relação a Cuba, país onde o grupo Orishas, por exemplo, é um dos poucos que negociam as restrições estabelecidas sobre movimentos culturais nesse sentido. A Diretora do Programa de Estudos Africanos e Afro-americanos vê de forma positiva o fato de os jovens rappers em ambos os países promoverem um hip hop com raiz africana, apesar dos elementos culturais americanos estarem cada vez mais difundidos pelo mundo. “Nos EUA o rap se tornou muito comercial. É uma indústria de bilhões de dólares”, acrescentou.

Não só no Brasil ou em Cuba, o hip hop carece de programas ou entidades que contribuam para a sua descriminalização e ruptura dos estereótipos construídos pela mídia, e reafirmados pela sociedade dominante. Halifu Osumare acredita, no entanto, que essa realidade – na qual o movimento é criminalizado – vai mudar, e destaca a importância de se pensar maneiras de garantir que o movimento se mantenha como porta voz da sua comunidade de origem. “É importante manter o controle da comunidade sobre esse estilo”, enfatiza.

Raras publicações contemplam o hip hop no Brasil. Na Bahia, apenas alguns estudos buscam somar com a literatura sobre o movimento, como os desenvolvidos pela Professora Lícia Barbosa (Universidade do Estado da Bahia), que analisa as mulheres no hip hop em Salvador. Halifu Osumare completa: “O hip hop é sempre um assunto complexo, (além disso), ao contrário da visão oficial que afirma não haver nada com nada (nesse estilo), ela engloba todos os assuntos”.

Site e email da pesquisadora Halifu Osumare: http://www.halifuosumare.com/ / hosumare@ucdavis.edu

* Edvan Lessa é estudante de Comunicação – Jornalismo da Faculdade de Comunicação, na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura -UFBA.

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