Na tarde da última quinta-feira, 18, a Facom sediou o evento “Acessibilidade cultural em cena” promovido pelo Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania com apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UFBA. A mesa de debate foi composta pelo jornalista Ednilson Sacramento, Ninfa Cunha, gestora cultural do Espaço Xisto Bahia e Giuliana Kauark, especialista em políticas culturais
POR MARCELA VILAR*
marcelavilarms@gmail.com
Desde 2015, a lei (13.146) garante que as pessoas com deficiência tenham o mesmo direito de acessar e de consumir produtos culturais como os demais cidadãos. Apesar da disposição de um capítulo inteiro para tratar somente das questões do acesso a essas atividades, o cenário de produção cultural da Bahia raramente cumpre com suas responsabilidades legais.
Outro dissenso diz respeito à pouca participação de pessoas com deficiência como protagonistas da obra. Além da dificuldade desse público assistir aos espetáculos e frequentar eventos e espaços culturais, é ainda mais difícil eles subirem ao palco e se dedicarem ao fazer artístico.
O evento – Esses foram os principais temas abordados pela mesa de debate “Acessibilidade cultural em Cena” realizada na tarde de ontem, quinta-feira (18), no auditório da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O evento contou com a presença da gestora cultural do Espaço Xisto Bahia, Ninfa Cunha, do jornalista Ednilson Sacramento e da pesquisadora em políticas culturais Giuliana Kauark – em videoconferência pelo Facebook, além do mediador, o professor doutor em produção cultural, Leonardo Costa.
Ao longo da tarde, foram expostos os projetos Perspectivas em Movimento e Teatro para Sentir, coordenados por Ninfa e Giuliana, respectivamente. O Perspectivas, criado em 2014, tem como objetivo ensinar técnicas artísticas – teatro, dança e palhaço – às pessoas com qualquer tipo de deficiência. Em setembro do ano passado, durante a III Semana de Cultura Acessível, 60 alunos do projeto apresentaram um espetáculo em homenagem ao cantor Dorival Caymmi no Espaço Xisto, que, segundo Ninfa Cunha, tem uma acessibilidade arquitetônica de 65%.
O programa Teatro para Sentir foi idealizado para encarar as pessoas com deficiência como consumidoras de produtos culturais. Foram feitas 10 peças teatrais, voltadas também para o público infantil, que disponibilizaram tradutores de Libras e aparelhos de audiodescrição para o acompanhamento das apresentações. Realizado nos meses de setembro e novembro de 2014 no Teatro Vila Velha, o projeto mobilizou mais 1.500 espectadores, sendo que 30% destes tinham alguma deficiência.
“Promover acessibilidade não é barato, o custo é significativo, mas é fundamental”, afirma Giuliana Kauark no evento. Para ela, que também é doutora em Cultura e Sociedade, os produtores culturais não priorizam a promoção dessa acessibilidade, muito também pela inviabilidade orçamentária. O projeto Teatro para Sentir, que a mesma coordenou, teve patrocínio da Secretaria de Cultura da Bahia (SecultBA).
Paradoxo – Já o evento de ontem, promovido pelo Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania (CCDC) e com apoio da Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT), que tratava justamente da inclusão das pessoas com deficiência em espaços culturais, não teve a presença de nenhum intérprete de Libras nem de equipamentos de audiodescrição. Ao final do evento, a idealizadora da mesa de debate que faz parte da equipe do CCDC, Valdiria Fernandes, lamenta e justifica: “infelizmente, não conseguimos o apoio da universidade”.
Entretanto, o acesso para as pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida foi possível, uma vez que há dois anos foi construída uma rampa que dá acesso ao auditório da Facom. Porém, a acessibilidade aos outros andares da estrutura ainda é impraticável, pois não há elevadores.
Inclusive, esse é um problema estrutural da Facom, que há quatro semestres tem um estudante cadeirante matriculado, mas que não pode acessar o 1º e 2º andar do prédio, onde ficam os laboratórios de vídeo, rádio e fotografia. A direção já solicitou a verba algumas vezes para a UFBA mas a mesma ainda não foi fornecida. A solução encontrada foi a construção de uma sala anexo no térreo, para que o estudante não deixasse de assistir pelo menos as aulas teóricas do curso.
*Estudante do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura