Pesquisadoras concluem que existe uma lacuna sobre a aplicação didática em sala de aula do conhecimento e cultura produzidos pela população negra. Diante desta questão, o desenvolvimento de metodologias para trabalhar esse conhecimento, tanto nas escolas, quanto nas universidades, foi abordado no livro que terá lançamento ainda este mês
POR THAINARA OLIVEIRA*
thzinara@hotmail.com
“Descolonizando Saberes” é o título do livro pré-lançado na última quinta-feira,1, no Espaço Sol do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A publicação foi idealizada durante as aulas da disciplina Descolonização de Saberes, ministrada pelas professoras Barbara Carine (Química) e Katemari Rosa (Física), no curso de Pós-Graduação do Programa de Ensino, Filosofia e História das Ciências e responsáveis pela organização do livro.
O livro é pautado com referencial que parte da perspectiva africana. Segundo a professora do Instituto de Química, Bárbara Carine, a publicação busca resgatar os conhecimentos científicos africanos, “abordando o pioneirismo da África em algumas produções no campo da Medicina, Química, Geometria e Astronomia, como a importância da alquimia egípcia para o desenvolvimento da Química europeia, além de estudos sobre outros povos africanos, menos conhecidos, que alimentaram a ciência”.
Segundo a pesquisadora, a lacuna sobre a aplicação didática desse conhecimento, que pouco é estudado na graduação e pós-graduação, ocasionou a concepção das pesquisas para propostas na sala de aula, exercitando o pensamento de como ensinar os conteúdos das diversas disciplinas a partir da visão decolonial. O material escrito relata produções trabalhadas durante o semestre e são textos didáticos com propostas de discussão para abordar e aplicar em sala.
A quebra do estereótipo da visão de cientistas, como homem e branco, é um dos pontos abordados na sequência didática, além de trazer legislações que foram vigentes no Brasil a respeito de questões raciais, inclusive com a história e processo de aplicação da Lei 10.639.
“O reconhecimento e a integração das diversas etnias para compreensão de que existe horizontes comuns nesses países, que constituem o hemisfério sul, e várias necessidades que acontecem no continente africano também nos dizem respeito. Quando se nota o acontecimento de golpes de estado, implantação de ditadura e eleições fraudulentas na África, vemos que todo hemisfério ainda é vítima de imperialismo e influências externas”, ressaltou o professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e um dos autores da publicação, Francisco.
Para os colabores o livro é uma resposta para nortear quem se questiona a respeito das contribuições africanas, um instrumento de resistência para tentativa de cessar a voz, luta, direitos e existência, fazendo com que as diferenças possam conviver juntos. “Tivemos um movimento expressivo de unidade e espero que permaneça daqui para frente, porque mais do que nunca precisaremos nos ‘aquilombar’”, afirma Bárbara Carine.
O lançamento do livro irá ocorrer no próximo dia 12, no Museu Afro-brasileiro (MAFRO), no Pelourinho, a partir das 17 horas, com a palestra de abertura com a professora Vanda Machado sobre a Lei 10.639/03, que prevê o ensino de História, Cultura Africana e Afro-brasileira na educação básica. O livro estará disponível para venda no site livraria da Física.
Assista o vídeo do evento de pré-lançamento do livro:
*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter na Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA