"Políticas e programas voltados para a saúde da mulher passaram a contemplar saúde reprodutiva, mas na prática as ações estão limitadas a objetivos políticos que não atendem as demandas femininas."
JANE EVANGELISTA*
janeevangelista@gmail.com
Apesar das tentativas de melhorias na assistência à saúde feminina ao longo dos anos, intensificado nos anos 80 com a criação do Programa de Assistência integral a Saúde da Mulher (Paism), que preconizava uma assistência integral clinico-ginecológica e educativa para a mulher em todas as fazes da vida. Do lançamento, em 2000, do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), que tem como principal objetivo a humanização dos serviços obstétricos e neonatal e do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, que engloba o PHPN, ampliando-o, levando a humanização a atenção a saúde da mulher de uma forma geral. No entanto, as mulheres brasileiras continuam morrendo em decorrência de problemas relacionados ao período gravídico-puerperal.
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De acordo com médica obstetra, Marilena Pereira, “Apesar dos projetos perfeitos em teoria, deve haver vontade política dos gestores de realmente implementar e monitorar a qualidade do atendimento, ao lado de número de leitos de maternidade suficientes. A capacitação de profissionais dentro das boas práticas obstétricas: por um lado na atenção à gestante de risco habitual (baixo risco), evitando intervenções desnecessárias e por outro lado a atenção adequada à gestação de alto risco e emergências obstétricas e neonatais.”
A atenção à saúde feminina no país ainda está aquém do esperado. De acordo com Oliveira, “A situação da saúde da mulher ainda é bastante precária na sociedade brasileira como um todo. As políticas e programas voltados para a saúde da mulher até passaram a contemplar além da saúde reprodutiva, mas na prática as ações estão limitadas a objetivos políticos que não atendem as demandas femininas.”
Apesar de ter sido um marco histórico na atenção à saúde da mulher, 29 anos após sua formulação, o PAISM ainda não foi implantado em muitos municípios brasileiros. A atenção integral à saúde da mulher preconizada pelo programa, que pressupõe a organização do trabalho e atenção a todas as suas demandas e necessidades em todos os níveis de complexidade da atenção, é um importante fator para a diminuição da morte materna.
De acordo com Menezes, “A discussão sobre mortalidade materna tem tudo a ver com a necessidade de integralidade da atenção. A mulher que prossegue com a gravidez deve ter acesso ao pré-natal na rede básica desde o início da gestação, com garantia de realização de consultas, exames laboratoriais e de imagem complementares; ela deveria estar vinculada a um hospital para o parto; na presença de uma eventual complicação na gravidez, deveria ser referenciada para um serviço de maior complexidade. No momento do parto, buscaria o hospital designado, evitando a peregrinação em busca de um leito para parir. Após o parto, as mulheres deveriam voltar à rede básica para acompanhamento.”
*Jane Evangelista é jornalista e especialista em Jornalismo Científico pela UFBA.