O diálogo intercultural entre o ambiente educativo e a sociedade deve legitimar questões sociais, à luz das suas reais complexidades, na visão de Rosiléia de Almeida. Durante a ACTA 12, a professora participou do Café Científico com a conferência “Educação Ambiental no Contexto Cultural”.
POR EDVAN LESSA*
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O ambiente de ensino deve ser um local privilegiado de troca de ideias e de legitimação de práticas da sociedade, na visão de Rosiléia Oliveira de Almeida. A professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que conduziu a apresentação “Educação Ambiental no Contexto Cultural”, avalia a “circularidade entre as culturas”, como um caminho à compreensão de determinados problemas sociais e ambientais, por vezes tratados pelas ciências a partir de uma “visão simplista”.
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Ao comparar uma notícia sobre a utilização do mandacaru para a alimentação de animais no contexto da seca, com uma nota em que meteorologistas argumentavam sobre a baixa pluviosidade nas regiões semiáridas, Rosiléia de Almeida propôs a reflexão de que ambas as informações pudessem estar integradas. Isso porque, para a estudiosa, dificilmente uma ciência específica abarca, sozinha, a complexidade de temas sociais.
“Em que medida os problemas socioambientais se relacionam com o acesso que as pessoas têm aos bens e aos riscos?”. Esse é um dos questionamentos que a professora sequencia em sua reflexão. E, nessa perspectiva, ela enfatiza a adoção de abordagens crítico-reflexivas, que considerem as relações sociais sob o primado da política como alternativa.
É fundamental se aproximar do que é diferente. “[Mas] para se conhecer uma pessoa é preciso comer um saco de sal juntos”, parafraseia Almeida. A professora afirma que, muitas vezes, as pessoas tentam apenas justificar os hábitos de determinados indivíduos porque são culturais. “Mas é importante trabalhar isso de modo dinâmico”, sugere.
“A universidade precisa participar [colaborativamente] do processo cultural e não apenas pairar sobre ele”, lembra Rosiléia de Almeida, que também chama a atenção para a atual teorização da cultura, tendência que, a seu ver, promove a superação de tipos tradicionais de ordem social, gerando novas posições de identidade. “[Mas] o ‘bizarro’ tem que se integrar ao que lhes é familiar para que adquira sentido”, defende.
A inter e transdisciplinaridade são vistas, portanto, como exigências diante da complexidade dos desafios socioambientais, segundo conclusões de Almeida. A realização de práticas ambientalistas no espaço acadêmico, a participação em redes de coautoria, cooperação e mobilização se configuram como modos de entender a complexidade do cotidiano, para ela. Tudo isso, à luz da motivação de que talvez a economia só dê conta de abarcar as demandas do meio ambiente, se for “transcolorida”.
Edvan Lessa é estudante de Jornalismo da Facom – UFBA e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.