Pesquisador identifica aumento de pessoas que realizam mapeamento genético e disponibilizam os dados para futuras pesquisas através do banco público.
NÁDIA CONCEIÇÃO*
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“Sequenciamento de genoma será algo cada vez mais comum”. É o que diz o pesquisador e especialista do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Sandro José de Souza, que falou sobre a pesquisa “Sobre a evolução de redes de interação proteína-proteína”. Souza participou do I Simpósio de Genômica Funcional e Biologia Sistêmica UFBA, iniciado na última segunda-feira (25/02).
Segundo o professor, o campo de estudo em biotecnologia possui grande potencial para constituir carreira, sobretudo, na área de desenvolvimento tecnológico. Outra facilidade que tem se configurado, nos últimos anos, diz respeito ao aumento do número de pessoas que realizam mapeamento genético e disponibilizam os dados para futuras pesquisas através do banco público – projeto 1000 genomas. Entretanto, Souza acredita que ainda existe um grande desafio nessa área. “Ainda precisamos dominar como se processar e analisar os dados adquiridos, que hoje é o gargalo dessa área e se constitui em uma mudança de paradigmas com a Bioinformática”, afirmou Souza.
De acordo com o professor Sandro, o universo da Bioinformática é compreendido em dois víeis: o dos fazedores e o dos usuários. Souza explica que os fazedores são os pesquisadores, que já têm um banco de dados estabelecido, sabem fazer programação, têm habilidades com a tecnologia da informação e uma base bem desenvolvida. “Qualquer um pode se tornar um fazedor, basta ganhar familiaridade com o linux, onde existe a maioria dos programa para o genoma; aprender a usar o campo relacional (armazena a informações, fácil acesso e ideal para biólogo e para o biocientista) e aprender a fazer programação”, afirma.
Já o usuário é caracterizado por usar um banco de dados remotamente e não ter habilidade com programação. Contudo, Souza afirma que um usuário pode perfeitamente se tornar um fazedor, como aconteceu com ele, desmitificando a ideia de que é difícil aprender a linguagem de programação e estudar bioquímica.
Re-sequênciamento de um genoma humano
O professor conta que realizou o re-sequênciamento do próprio genoma e disponibilizou em um banco público, que consiste no mapeamento dos genes. “Então, se você entrar no banco de genomas e colocar o código OSRX208349 você vai ver meus dados, o genoma de um brasileiro”.
Durante o mapeamento, a equipe descobriu elementos interessantes com relação ao gene SKA3. “Esse gene está envolvido em mitose, em segregação do cromossomo e diminui o balanço de proteínas. E eu tenho uma retrocópia desse gene. A retrocópia ocorre porque a célula copia o SRNA para uma versão de SDNA, que pode entrar em uma sequência ou no núcleo e se tornar parte do gene intro. Eu tenho uma retrocópia desse gene, o que também acontece com outras pessoas”.
A questão da ética no sequenciamento do genoma humano
Para além da questão das descobertas genéticas do mundo atual, o professor acredita que o Brasil ainda tem muito a evoluir no quesito de re-sequênciamento do genoma. Um dado que ele classifica como importante para essa evolução é a aprovação do Projeto de Lei nº 4610, de 1998 (Pls 149/97), do Senado Federal, que define os crimes resultantes de discriminação genética. “Temos que tomar cuidados para que essa coisa tão importante para a biotecnologia não sirva como um mecanismo de seleção e discriminação”, alertou. Nos Estados Unidos e em outros países já existem leis que proíbem a discriminação genética. No caso do Brasil, o projeto está parado e sem previsão para votação.
*Nádia Conceição é jornalista, estudante de produção cultural da UFBA e bolsista da Agência Ciência e Cultura.