Integrante do grupo Arte Híbrida da EBA-UFBA, a pesquisa “Processos Criativos em Artes Visuais”, desenvolvida pelo mestrando Pablo Lucena, tem como foco a interação de diversas mídias, explorando aspectos como o vazio, a ironia e a contradição.
POR EDVAN LESSA
lessaedvan@gmail.com
Permeada pela metaironia e contradição, a série “Sweet Blue Dream”, do artista Pablo Lucena, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (EBA-UFBA), é fruto não só de grande criatividade e trabalho árduo, como também de uma pesquisa orientada pela Professora Maria Celeste de Almeida Wanner, do Programa de Pós Graduação em Artes Visuais da UFBA. A exposição que esteve aberta a visitas na Galeria Canizares (EBA-UFBA), entre os dias 03 e 13 de abril de 2012, tem como objeto principal, piscinas em diferentes contextos.
Piscinas teatralizadas, dispostas de forma totêmica, remetendo às vezes a características antropomórficas. Essa é apenas uma breve descrição do trabalho de Lucena, que ressalta a ironia presente no próprio título de seu trabalho, ao relacioná-lo com a ideia de “way of life” e “american dream”, dissociando-o do caráter de bem estar, que sugere a tradução “doce sonho azul”. A exposição do artista cumpre a proposta teórico-prática do grupo de pesquisa Arte Híbrida, coordenado por Maria Celeste Wanner, integrante da linha de estudos Processos Criativos em Artes Visuais, do Mestrado em Artes Visuais da EBA-UFBA.
Criado em 2002, o grupo Arte Híbrida está voltado para as investigações referentes à permanência e pertinência da imagem na matéria, presentes no deslocamento das técnicas tradicionais e de suas nascentes. O objetivo é incorporar semanticamente o “novo” de forma híbrida. No caso da proposta de Pablo Lucena, o hibridismo se dá pela interação entre imagem fotográfica, objeto (piscina), luz, som, vídeo. Para o pesquisador, “a palavra (também) acaba fazendo parte, e contamina (por exemplo) a ideia da fotografia”. Em seu trabalho, também estão presentes questões sobre o vazio, o individualismo, a alteridade e o espetáculo.
O trabalho artístico de Lucena contempla o aspecto da desconstrução de elementos ao propor uma mistura entre foto, áudio, elemento físico, que complementam e dão suporte à linguagem de cada série. De acordo com a professora Maria Celeste Wanner “sonhar, desejar, fantasiar, fabular são palavras que podem suscitar uma possível aproximação com a obra de Pablo Lucena, mas não a traduzirá por completo”. Lucena sugere, por outro lado, que em seu trabalho há uma indiferença pelo objeto, tal como propõe Marcel Duchamp.
Arte como interpretação
“Tenho o trabalho de arte como interpretação de mundo através da embriaguez dos pathos”, destaca o mestrando, que considera importante a formação inicial que obteve através das oficinas do Museu de Arte Moderna da Bahia. Segundo ele, o trabalho composto pelos setores, “Da sedução”, “Da ironia do sonho”, “Da comédia do sonho” e “Deserto das paisagens” partiram de suas próprias reflexões, encontrando identificação teórica em estudiosos como, François Soulages, Gilles Deleuze, Guy Debord, Jean Baudrillard, Zygmunt Bauman e aspectos da fotografia alemã. A semiótica também está presente, apesar de não ser o campo mais explorado.
“No caso da comédia do sonho, eu uso a ideia de uma tipologia de objetos, algo que de certa forma dialoga com o trabalho de Bernd e Hilla Becher (fotógrafos alemães)”, esclarece Lucena. O pesquisador defende que não há uma intenção de fechar o trabalho com o seu discurso, entretanto, acredita que o artista pode se posicionar de maneira mais efetiva, sem que isso signifique, de fato, fechar o significado de sua criação.
Serviço
Blog do Grupo de Pesquisa Arte Híbrida: http://grupoartehibrida.blogspot.com.br/
Blog do artista Pablo Lucena: http://sweetbluedreampablo.blogspot.com.br/