Oficinas com grupos comunitários idealizadas pelo professor de Fotojornalismo da Facom visam somar com publicações sobre a função social da fotografia.
POR EDVAN LESSA*
lessaedvan@gmail.com
“A fotografia ganha um papel importante enquanto imagem e construtora de um discurso social. Não interessa apenas a parte iconográfica, pois tudo isso faz parte do contexto mais amplo que envolve os usos da imagem e seus atributos para a inserção dos grupos na esfera social”, afirma Rodrigo Rossoni, professor de Fotojornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom-UFBA) e idealizador de iniciativas que levam a atividade fotográfica para a rotina de comunidades como a situada no bairro de Mata Escura, em Salvador. A atividade de extensão integra a linha de pesquisa em fotografia e busca evidenciar o aspecto imagético como produtor de sentido, em contraponto ao estereótipo negativo de grupos sociais.
Como membro do grupo de pesquisa sobre Recepção e Crítica da Imagem, e coordenador do grupo do Laboratório de Fotografia da Facom (LabFoto), Rossoni desenvolve, juntamente com outro professor coordenador e uma equipe de bolsistas e voluntários, metodologias que delineiam as atividades práticas na comunidade. E ao passo que as discussões e etapas acontecem, as atividades que tem duração de um ano, geram insumos para a elaboração de artigos científicos. A expectativa é que esses trabalhos sejam publicados em eventos como a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).
Ana Maria dos Santos, uma das pessoas mais assíduas das oficinas desenvolvidas em Mata Escura reconhece o quanto esse trabalho está sendo proveitoso. “Está sendo muito bom o fato dos estudantes saírem da faculdade e trazerem esses conhecimentos”, afirmou Ana Maria. Dona Ana, como é popularmente conhecida, manifesta grande felicidade ao mencionar a experiência de fotografar com a pinhole – aparato feito artesanalmente, e que serve para fotografar. “Fico impressionada em como é possível fotografar com uma lata de leite. Falo bastante, e as pessoas que não sabem, dizem que eu estou em outro mundo”, brincou.
Rossoni revela que já desenvolveu trabalhos similares ao de Mata Escura, como o da Favela da Maré no Rio de Janeiro e do Movimento Sem Terra, também no sudeste brasileiro. “No caso do espaço da periferia, não há apenas o que é divulgado pela mídia – violência, criminalidade, tráfico de drogas. As pessoas que vivem nesses cenários tem usado a fotografia para várias possibilidades, e apenas uma delas é a de trazer a público os respectivos problemas”, explicou. O professor de Fotojornalismo reforça os objetivos de trabalhar com a fotografia e sua relação com a comunicação e a educação, além das implicações desses ecossistemas comunicacionais enquanto produtores de subjetividades.
Outro projeto em andamento
“Eu acabei indo para a fotografia, não pela fotografia, mas pelas possibilidades que ela me dá de atuação”, reforça Rossoni, que afirma existir outro projeto de formação dos alunos do Núcleo de Estudos Políticas e Práticas Agrárias (NEPPA) para que eles desenvolvam oficinas em comunidades rurais localizadas em assentamentos de reforma agrária do município de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. De acordo com o pesquisador, o cronograma já foi iniciado e nesses três primeiros meses haverá a capacitação do NEPPA. Durante os sete meses seguintes serão desenvolvidas as oficinas nas comunidades rurais e ao final também haverá a elaboração de artigos científicos.
* Edvan Lessa é estudante de Comunicação – Jornalismo da Faculdade de Comunicação, na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura -UFBA.