O protagonismo negro na universidade é o centro da reflexão de Mariana Soares. Confirma mais no texto completo abaixo
POR MARIANA SOARES*
Será que a faculdade é mesmo para mim? Essa é uma pergunta que há tempos ronda a mente da menina preta que vos fala. Por ações públicas, ou não, é certo de que nunca houve tantos estudantes negros e negras na UFBA. E isto significa protagonismo, colocarmos a nós não só como objeto de estudo, mas também como realizador deles.
Na sexta-feira, 15, conferi algumas palestras do congresso de aniversário de 70 anos da universidade e, felizmente, o que vi é reflexo da diversidade que enxergo entre os estudantes.
Literatura
A primeira palestra que assisti foi “Metaficção na épica contemporânea: A configuração do heroísmo negro feminino no livro ‘Um Defeito de Cor’ de Ana Maria Gonçalves, ministrada por Soraya Brito Oliveira, graduanda em Letras Vernáculas pela UFBA.
Em sua pesquisa, ela analisa como a escritora contemporânea Ana Maria Gonçalves desafia o discurso dominante dos processos históricos através da personagem principal, Kehinde, uma mulher negra africana e escravizada com intensa relação entre África e Brasil, inspirada na lendária figura de Luiza Mahin, mãe do poeta e abolicionista do século XIX Luiz Gama.
Corpo
Em seguida assisti a “O corpo como lugar de memória ancestral no conto ‘Mukondo’ de Landre Onawale”, por Maria Dolores Rodriguez. Formada em Letras pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), a atual mestranda pela UFBA, desenvolve um projeto que fala da ressignificação do corpo negro no contexto diaspórico a partir do conto do autor soteropolitano Landre Onawale.
Movimento musical
Deste ciclo, encerrei com “O hip hop como cultura afro-brasileira”, do graduando em Letras Vernáculas pela UFBA Ezequiel Cruz. Na ocasião foi levantado o debate sobre o hip hop aqui no Brasil através de sua historiografia pelo mundo e foco nas produções atuais em nosso país, perpassando pelos pilares do movimento: DJ, Rap, Breaking Dance e Grafite.
Será que a faculdade é mesmo para mim? Já não tenho essa dúvida depois do congresso. Ao invés, tenho a felicidade e segurança em reconhecer que há sim um lugar de fala reservado para eu e tantas outras pessoas negras contarmos nossas próprias histórias por aqui.
*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA e voluntária da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura