Edvaldo Couto, professor de Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia e doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, defende que é pelo corpo que as pessoas ocupam e vivem as redes sociais e que estudá-los implica pensar toda a dinâmica da sociabilidade nesses ambientes dá subsídios para pensar um modelo de educação abrangente e mais próximo do cotidiano de estudantes ou mesmo dos educadores.
POR GILBERTO RIOS*
gilberto.rios13@gmail.com
Apresentado na segunda edição do Simpósio em Tecnologias Digitais e Sociabilidade (SIMSOCIAL 2012), a pesquisa “Corpo, Subjetividade e Tecnologias Digitais: usos de redes sociais na Educação” explora as possibilidades de uso das redes sociais virtuais para a Educação, atentando a questões como a percepção do próprio corpo, do corpo dos outros e aos discursos normativos excludentes que modelam subjetividades. Produzido por Edvaldo Souza Couto, professor de Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, o trabalho reafirma esses ambientes de sociabilidade como um terreno fértil para pensar um modelo educacional.
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Quando David Albury, diretor de design e desenvolvimento da Global Education Leaders’ Program [Programa Global de Educação de Líderes, em português], perguntou a alunos canadenses sobre o que achavam da escola, um deles – de 13 anos – respondeu: “Quando eu venho para a escola, eu sinto que eu estou sendo desempoderado. Fora da escola, eu tenho acesso a várias fontes de informação. Na escola, eu tenho um professor, um livro, talvez um computador”. Outro menino de mesma idade do primeiro é mais enfático: “A escola atrasa o séc. XXI”. Não é à toa. O modelo educacional aplicado em larga escala atualmente tem distanciado aprendizes do mundo em que vivem, desconsiderando ou limitando o uso de ferramentas de ensino potencialmente eficazes.
“O que me interessa, na verdade, são as narrativas corporais feitas nas redes sociais. Aspectos narrativos, textuais e fotográficos”, explica o professor. Ele cita o teórico francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) para justificar que a nossa forma de estar no mundo é por meio do corpo. Existimos com o corpo e por ele nós o experimentamos. O doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, portanto, indica que é pelo corpo que as pessoas ocupam e vivem as redes sociais e que estudá-los implica pensar toda a dinâmica da sociabilidade nesses ambientes dá subsídios para pensar um modelo de educação abrangente e mais próximo do cotidiano de estudantes ou mesmo dos educadores. “As narrativas parecem alheias à Educação. Alunos e professores estão conectados às redes, mas as atividades docentes estão quase sempre dissociadas. Um dos objetivos desse estudo é tentar aproximar as duas atividades”, detalha Edvaldo.
O pesquisador constata que subsidiar as escola a fim de comprar computadores e instalar internet é um passo importante para implantar o método educativo proposto por ele. Mas o corpo docente não deve restringir o acesso à rede, ou estaria de encontro ao princípio do projeto. A escola estaria perdendo potencial à medida em que, ao invés de instaurar o debate a partir das práticas dos alunos nos ambientes em que costumam navegar e discutir tópicos como “privacidade”, “sexualidade”, “imagem”, “memória” e “responsabilidade”, “pedagogiza” o uso do computador, estaria apenas validando o uso de sites de busca para que os alunos possam fazer pesquisa. “São as pessoas conectadas entre si que fazem as coisas. Não existe lugar pra indivíduos-ilha no mundo, quanto mais no espaço das redes sociais”, contesta Edvaldo Souza, atentando para o carácter produtor de sentidos que as redes sociais são dotadas. “O modelo ideal de comunicação não é o que centraliza, mas um que funcione horizontalmente, onde todos os indivíduos tenham liberdades de ação semelhantes”.
“A construção do corpo atua em meio a contradições espetaculares: liberam o corpo de antigos aprisionamento e criam, simultaneamente, outros limites inquietantes que nos desafiam”, expõe o pesquisador, que continua constatando: “o momento de transformação do corpo deve ser visto e acompanhado”. Afinal, o corpo fora do ideal, para ele, é visto como o” corpo medonho, irregular, desviante”.
Por fim, o Edvaldo sugere que a discussão sobre o uso das redes sociais na Educação perpasse temas como o cuidado e a construção da narrativa corporal, a espetacularização e a visibilidade de si, a expressão prática do pensamento critico, a busca por resolução de problemas, o agir colaborativamente, a capacidade de escrever e se comunicar, a responsabilidade e a cidadania, a liderança e adaptabilidade, criatividade e autonomia. “A sala de aula também é esfera publica, mas em modo reduzido e a Educação é produção livre de conhecimento”, concluiu.
* Gilberto Rios é bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura, estudante de Jornalismo na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom-Ufba) e integrante do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (Cus) na mesma universidade.