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Atualizado em 25 DE outubro DE 2012 ás 09:38

Redes sociais reconfiguram produção de conteúdo

O pesquisador da Facom-Ufba, Edson Dalmonte, apresentou seu trabalho "Teorias da Comunicação , Mídias Interativas e novas formas de consumo: Recirculação, Crítica e Reconfiguração", durante o Colóquio Brasil-Canadá.

GILBERTO RIOS*
gilberto.rios13@gmail.com

Da política à novela, as redes sociais virtuais (como o Facebook e o Twitter) têm agendado temas e geram a partilha de conteúdo entre seus usuários. Hoje, não é raro que alguém esteja ao computador e, sem usar veículos de informação, consiga se inteirar a respeito de algum assunto exclusivamente pelos feeds de seus amigos. O poder de divulgar um produto deixa de ser propriedade das instituições, dando lugar à participação do sujeito comum. Mas até que ponto há autonomia desse sujeito? E como os dispositivos de controle passam a incidir sobre ele? Esses são os principais questionamentos levantados por Edson Fernando Dalmonte, doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor da Faculdade de Comunicação (Facom) e do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da mesma universidade, Dalmonte apresentou sua pesquisa nesta terça-feira (23.20) no Colóquio Internacional Brasil-Canadá, sediado na Facom-UFBA.

Professor Edson Fernando Dalmonte durante o Colóquio Brasil-Canadá

“Se há mais leituras, há também o desejo de controle desses leitores”, denunciou o pesquisador, que diz não conseguir se desvencilhar das teorias sobre os dispositivos de poder pensados pelo filósofo Michael Foucault. Seu trabalho – Teorias da Comunicação, Mídias Interativas e novas formas de consumo: Recirculação, Crítica e Reconfiguração – explicita a divisão do processo de análise comunicativa em três passos:  Circulação, Recirculação e Reverberação. “Queremos entender a esfera do consumo passando por um elemento importante para a promoção de produtos midiáticos”, explica Dalmonte.

Não faz muito tempo, os postulados sobre Comunicação focavam sua análise no lugar onde se localizava o leitor. Nesse ponto, o que importava era o contexto de onde se vê o produto cultural, sem abrir possibilidade para diferentes visões feitas pelo público que inicia o processo de significação a partir do mesmo ambiente. Logo, essa visão se desdobra, dando lugar a uma nova corrente muito mais preocupada com as possibilidades de leitura do receptor, sem desconsiderar que toda leitura se dá em um jogo que põe em cena o leitor, o seu contexto e aquilo que é lido. Nomes expressivos como Raymond Williams, Stuart Hall e Jesús Martún-Barbero sinalizam que qualquer análise que deixe de levar em consideração o estudo da paisagem onde se dá o jogo comunicativo e seus atuantes seria um processo incompleto ou, no mínimo, raso.

“Cada vez mais, os produtos são pensados para essa nova forma ‘barulhenta’ de se produzir”, atenta o Dalmonte. Por barulhenta, ele se refere às redes socais virtuais, cujas ações principais são sempre o compartilhamento de conteúdo. O pesquisador “busca localizar as marcas da relevância do consumo como elemento reconfigurante da comunicação”. Afinal, como as lógicas de produção são alteradas a partir daquilo que reverbera nesses ambientes de sociabilidade online? “O indivíduo adere aos meios a partir da dinâmica do gosto e seu consumo se dá no momento em que não somente a necessidade se faz presente, mas a emoção também é um fator decisivo”, respondeu.

Isso explica os virais na internet que se desdobram em outros conteúdos. Em uma cena da recém-terminada novela Avenida Brasil, da Rede Globo, a personagem Zezé dança e canta a paródia de uma música popular entre as rádios brasileiras. Sequer 24h após a exibição desse vídeo pela emissora, “Eu quero ver tu me chamar de amendoim” já era uma canção conhecida no Facebook, Twitter e Youtube. Com um adicional: já existiam remixes da paródia construídas não pela emissora, mas por pessoas de fora dela que obtiveram mais de dois milhões de visualizações desde o seu lançamento. Esse é um exemplo claro de como a circulação de um produto gera movimentação nesses ambientes (recircula) e termina desdobrado sob uma outra forma diretamente relacionada às duas etapas anteriores (reverberação).“A instância de produção começa a produzir em diálogo com essas possibilidades”, defende Dalmonte.

*Gilberto Rios é bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura, estudante de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba) e integra o grupo de pesquisa sobre Cultura e Sexualidade (Cus).

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