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Atualizado em 8 DE maio DE 2013 ás 22:31

Sapiranga: um santuário cientifico

Desde 2010, por meio do Projeto Floresta Sustentável, realizado pela FGD, a reserva Sapiranga recebe investimento da Petrobras para preservação da fauna e flora locais, para a restauração de áreas degradadas

ELENA MARTINEZ E LÍVIA MODESTO*

Sapiranga é também um santuário científico. Funciona perfeitamente como um campus de pesquisa a céu aberto. Pesquisadores de diversas áreas acompanham a ocorrência, o crescimento e o comportamento de animais. Investigam o desenvolvimento, a utilidade, as propriedades terapêuticas, medicinais, nutritivas ou, simplesmente, ornamentais, das plantas do lugar.

Como centro de estudo ambiental, portanto, a Reserva Ecológica da Sapiranga é um terreno fértil para o desenvolvimento de pesquisas nas áreas das ciências humanas e biológicas que buscam a construção de metodologias capazes de promover o desenvolvimento sustentável.

A reserva foi inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Litoral Norte do Estado da Bahia, a partir do Decreto Estadual nº 1.046, de 17 de Março de 1992, e definida como Zona de Preservação Rigorosa, pelo Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), um dos instrumentos da Política Nacional e Estadual de Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 e Lei Estadual nº 10.431, de 20 de dezembro de 2006), que tem como finalidade o Ordenamento Territorial. O intuito do ZEE é induzir o desenvolvimento econômico de forma planejada, compatível e sustentável com as potencialidades do patrimônio ambiental e sociocultural de determinado espaço geográfico.

A área da Reserva Ecológica da Sapiranga pertenceu ao empresário paulista Klaus Peters, fundador e ex-presidente da Fundação Garcia D’ Ávila (FGD), instituição a quem doou as terras e que atualmente é responsável pela manutenção, execução de ações de monitoria e educação ambiental, incentivo ao ecoturismo especializado e à pesquisa científica no seu interior e arredores.

Desde 2010, Sapiranga recebe por meio do Projeto Floresta Sustentável, realizado pela FGD, investimento da Petrobras para preservação da fauna e flora locais, para a restauração de áreas degradadas e, especialmente, para promover e fomentar atividades de geração de renda compatíveis com a conservação ambiental e emancipação econômica das famílias que convivem no local nas comunidades Tapera/Sapiranga, Barreiro, Pau Grande e Campinas. As ações que visam o fortalecimento da educação e consciência ambiental realizadas com os visitantes e com as famílias residentes na reserva também têm o apoio da Secretaria Municipal de Educação de Mata de São João.

A Tapera/Sapiranga é a única comunidade organizada dentro da reserva, as outras estão distribuídas em seu entorno. Esta comunidade é formada por 45 famílias nativas, que somam 180 pessoas, cerca de quatro membros por casa. A população Tapera/Sapiranga usufrui da natureza local consumindo a água e o alimento encontrados em suas terras. Especialmente as espécies vegetais, sejam elas nativas ou introduzidas também possibilitam a seus habitantes realizar atividades geradoras de renda, como o artesanato, a venda de mudas e de gêneros alimentícios. Esses trabalhadores estão organizados em cooperativas, assessoradas pelo Projeto Floresta Sustentável, cujo princípio tem base no uso racional e sustentável dos recursos naturais com a adoção do Sistema Agroflorestal.

A população da Sapiranga mantém hábitos seculares, a exemplo do modo peculiar de preparar o peixe, sem tempero, sem nada: chama-se Sapeca.  O animal é espetado assim que é tirado do rio e colocado para assar em uma fogueira. Apesar do aspecto tostado, a carne do peixe conserva-se macia e o sabor diferenciado.

A própria cultura da pesca na Sapiranga é bastante curiosa.  Os pescadores utilizam a tapagem, uma espécie de malha de galhos, armada no rio em pontos estratégicos. Estes pontos de armação da tapagem até hoje são passados de pai para filho; pessoas de outras famílias são proibidas de usar os tradicionais pontos de pesca. Em regra, o costume é respeitado, caso contrário gera confusão.

A tapagem é o local onde é encaixado o jequi, que pode ser descrito como um cesto de pesca produzido com um ramo vegetal e cipó. Como são largos em uma ponta e afunilados na outra, os jequis são especialmente eficientes na pesca de camarão, pitu e curuca, que caem na armadilha e não conseguem mais sair.

O curuca é um crustáceo bem típico da Reserva da Sapiranga. Tem aspecto, sabor e maneira de preparo semelhante aos do camarão. São encontrados com facilidade nas corredeiras do Rio Pojuca e há poucos relatos de sua aparição em outras localidades. Não há registros científicos acerca da ocorrência do curuca, tampouco classificação científica para este animal.

*Elena Martinez e Livia Modesto são jornalistas especializadas em Jornalismo Científico e Tecnológico.

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