Liberação dos mosquitos modificados pode diminuir o número de contaminados pela doença
MATHEUS VIANNA*
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O laboratório da organização Moscamed Brasil, situado na cidade de Juazeiro, Bahia está testando pela primeira vez no país uma espécie transgênica do Aedes aegypti que visa controlar e diminuir a propagação do mosquito transmissor da enfermidade. A dengue é transmitida somente pela fêmea, que se alimenta de sangue.
Os primeiros testes com o Aedes Transgênico OX513A foram iniciados em 2011 e seguiram até o ano passado, quando o laboratório lançou em dois bairros da cidade de Juazeiro, 17 milhões de insetos machos. Antes os testes com o mosquito transgênico só eram realizados nas Ilhas Cayman e Malásia.
A coordenadora geral do projeto Dra. Margareth Capurro da USP, especialista em Bioquímica e Biologia molecular, explica que o procedimento consiste na liberação dos mosquitos machos na natureza que ao copularem com as fêmeas selvagens, transmitem um gene letal para os seus descendentes. “Esse gene estimula o desenvolvimento da proteína tTA, que em excesso no metabolismo dos insetos é tóxica e isso faz com que eles não sobrevivam até a fase adulta. O mosquito macho, criado no laboratório, mesmo carregando o gene mortal, consegue sobreviver, porque recebe o antibiótico tetraciclina até a fase de larva, que o imuniza contra o gene modificado, algo que os mosquitos contaminados não encontram na natureza,” explica a coordenadora.
A Moscamed Brasil está situada na região do Vale do São Francisco que é uma das maiores produtoras e exportadoras de uva e manga do país. Desde 2005 sua biofábrica desenvolve atividades voltadas para a produção de insetos geneticamente modificados como a mosca-da-fruta, para o controle de pragas e diminuição dos danos causados à fruticultura.
A partir de 2009, a organização iniciou o Projeto Aedes Transgênico (PAT) em parceria com a Universidade de São Paulo e a Oxitec, empresa inglesa que desenvolveu a técnica de modificação genética do mosquito transmissor.
Segundo o Ministério da Saúde, a dengue foi responsável por 573 óbitos no ano passado. Ainda segundo o órgão metade dos municípios brasileiros apresenta risco ou grau de alerta por proliferação da doença.
Devido os bons resultados iniciais em Juazeiro, redução de 70% de ovos do mosquito no bairro de Itaberaba e 94% no bairro de Mandacarú, o estudo avançou para a segunda fase. De acordo com a pesquisadora Michelle Pedrosa para realizar os testes em toda a área urbana, o município tinha que ser de médio ou pequeno porte, para maior controle experimental.
Diante dessas condições, a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab) sugeriu a cidade de Jacobina, com 45 mil habitantes em área urbana, que apresenta altos índices de infestação do mosquito e falecimentos por causa da doença.
“Além dessas características, Jacobina foi escolhida devido a sua proximidade a biofábrica que produz os mosquitos”, explicou Michelle.
“Juazeiro foi escolhida também pela existência de localidades com considerável grau de isolamento, o que é de extrema importância para obter um maior controle dos estudos”, afirma a supervisora técnica Luiza Garziera.
Segundo as supervisoras do projeto, Michelle e Luiza, além dos resultados positivos nas análises, feitas na cidade de Juazeiro, os primeiros resultados em Jacobina também foram bons.
No primeiro bairro do município completamente coberto pela liberação de mosquitos transgênicos, houve uma queda de 92% da população do Aedes aegypti transmissor da dengue. Os recursos para o desenvolvimento da pesquisa são oriundos convênios realizados com a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab) e Secretaria de Ciência e Tecnologia da Bahia. A biofábrica tem capacidade para produzir 4 milhões de mosquitos transgênicos por semana.
Após os testes finais que serão concluídos até o final de 2015, o objetivo é disponibilizar a técnica para o Ministério da Saúde para que seja incorporada às estratégias de combate à dengue em nível nacional.
O processo de reprodução do mosquito
A pesquisadora Michelle Garziera explica que a criação de mosquitos funciona em um grande laboratório e abrange tanto a biologia do mosquito quanto particularidades de um sistema de produção e reprodução da vida. “A partir dos ovos transgênicos trazidos da Oxitec para o Brasil, o que fazemos é produzir mais ovos, reproduzindo em laboratório o ciclo biológico dos mosquitos: eclodimos os ovos, criamos estas larvas por 7 a 8 dias, após as larvas transformarem-se em pupas, em seguida, os mosquitos adultos emergem (saem da água e voam)” disse Michelle.
Todo este processo dura em média 10 dias. Os mosquitos (machos e fêmeas) se reproduzem e então, após aproximadamente nove dias as fêmeas realizam a postura dos ovos. O ciclo de produção de ovos é constante. E sempre é verificado se os ovos produzidos estão com o sistema de letalidade ativo.
Parte destes ovos produzidos são utilizados em outro processo, cujo objetivo é a produção de machos para a liberação. Este processo segue a mesma sequência de criação, porém, o processo se diferencia quando o mosquito está na fase de pupa, pois é neste momento que machos e fêmeas são separados e as fêmeas são descartadas. Por fim, os machos são liberados nos bairros.
*Graduando de Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência Ciência e Cultura da Ufba
Porquê a Fiocruz não esta envolvida com esta questão e não se houve falar mais no projeto pela mídia. Já que é uma prioridade nacional.Gritem se possível.