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Atualizado em 14 DE outubro DE 2014 ás 15:57

UFBA preserva coleção de plantas coletadas no início do século XIX

Amostras vegetais coletadas por Pierre Verger fazem parte do acervo do Herbário Alexandre Leal Costa, localizado no Instituto de Biologia

Emile Conceição*

A importância do Herbário Alexandre Leal Costa (ALCB) é creditada, em grande parte, à sua riqueza histórica. Ele foi fundado em 1950 por Alexandre Leal Costa, biólogo que dá nome ao local, a fim de abrigar acervos naturais muito antigos. Parte deste acervo foi coletado na Europa, entre 1820 e 1880, principalmente na França, Suíça, Alemanha, Áustria, Hungria, Itália e Rússia.

Para a flora brasileira, destacam-se as coleções provenientes do Herbário Padre Joaquim Monteiro Caminhoá, que eram armazenadas na antiga Faculdade de Medicina da Bahia, do Herbário da Faculdade de Filosofia da Ufba, ambos fundados em 1808, do Herbário do Colégio Antônio Vieira, além de uma coleção doada pelo fotógrafo Pierre Verger.

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Capa das exsicatas vindas do Herbário Padre Joaquim Monteiro Caminhoá (Foto: Emile Conceição)

Os espécimes do Herbário Caminhoá foram coletados em todo o país, entre 1860 e 1880, e estão todos identificados ao nível específico e caracterizados segundo a sua importância ecológica, econômica e medicinal. Da Bahia, encontram-se materiais coletados durante o ano de 1967, como parte de um estudo investigativo realizado pelo fotógrafo francês Pierre Verger e com enfoque nos diferentes tipos de plantas utilizadas no candomblé, seja para fins medicinais ou religiosos.

O artista, também etnólogo, antropólogo e pesquisador, por não possuir espaço para armazenar suas amostras, doou ao herbário uma coleção composta por 150 espécies. Ele chegou a lançar, em 1995, o livro Ewé, o uso das plantas na sociedade iorubá, que traz 2.216 receitas para utilizações diversas das plantas.

Livro Ewé, o uso das plantas na sociedade iorubá, escrito por Pierre Verger (Foto: Divulgação)

Durante as pesquisas que resultaram nessa publicação, Pierre Verger fez um intercâmbio de plantas entre o Brasil e a África, como ele mesmo comenta na obra: “Pude também mostrar na África pranchas com amostras de plantas brasileiras conhecidas no ambiente do candomblé por denominações nagô-iorubá, o que facilitava a constituição de pranchas de herbário dessas mesmas plantas na África, assim como de numerosas outras utilizadas para trabalhos medicinais e mágicos por meus amigos iorubás”.

Exsicata venda do Herbário Caminhoá (Foto: Emile Conceição)

As plantas doadas pelo Colégio Padre Antônio Vieira (CAV), situado no bairro Fazenda Garcia em Salvador, também foram coletadas por uma personalidade ilustre, o Padre Camilo Torrend, um jesuíta francês radicado no Brasil em 1914, onde viveu a maior parte de sua vida. Sua contribuição para a ciência teve início com a confecção de artigos sobre botânica e micologia para a revista portuguesa Brotéria, fundada em 1900 e a primeira produzida no país sobre História Natural. Ele também lecionou sobre botânica e fitopatologia na Escola Agrícola do Estado da Bahia, que na época era localizada em Montesserrate.

Fotografia do Padre Camilo Torrend, durante uma de suas expedições (Foto: Emile Conceição)

Em suas excursões pelas localidades brasileiras, o padre coletou inúmeras espécies, até mesmo algumas desconhecidas que foram batizadas com seu nome, como é o caso do fungo Torrendia pulchella. Parte desse acervo foi transferido para o Herbário ALCB através de Alexandre Leal Costa, que foi um dos alunos do cientista católico.

Existe na biblioteca do Colégio Antônio Vieira um livro-guia denominado Flórula Bahiana, onde estão listadas as plantas encontradas pelo padre em suas viagens, bem como suas características e localizações. Esta obra, apesar de sua grandeza histórica, nunca foi publicada. Seu único exemplar, datilografado, e uma fotocópia feita pelos funcionários da biblioteca fazem parte do acervo bibliográfico do colégio.

Livro Flórula da Bahia, onde constam as descobertas botânicas do Padre Torrend (Foto: Emile Conceição)

Entre os feitos do cientista católico estão os estudos que descobriram as qualidades medicinais da água mineral de Dias D’Ávila e as explorações da Gruta dos Brejões, situada em Morro do Chapéu. Neste local foi encontrado o fóssil de um megatério, mamífero extinto da família das preguiças. Inclusive, um dos salões da gruta recebeu o nome de Sala Padre Torrend.

*Graduanda do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba e Colaboradora da Agência de Notícias Ciência e Cultura da Ufba

Um comentário a UFBA preserva coleção de plantas coletadas no início do século XIX

  1. O PADRE CAMILO TORREND É UM SANTO!!!
    ABRAÇO FRATERNO
    MAESTRO URBANO MEDEIROS

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