Filme retrata a luta da humanidade para se adaptar ao repentino congelamento dos hemisférios norte e sul do planeta
Por Marília Mariotti*
marilia.mariotti@gmail.com
O terceiro dia do “Cinema Comentado” (20) apresentou a ficção científica de Roland Emmerich, “Um dia depois de Amanhã”, exibido na Sala de Arte da Ufba, no Canela e teve como palestrante convidado o doutor em engenharia química pela Universidade de Paris e coordenador do programa Ufba Ecológica, Emerson Andrade Sales. O projeto que faz parte da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) e busca trazer a ciência para o cinema, usando uma típica produção holywoodiana para debater teorias científicas.
O filme retrata a luta da humanidade para se adaptar ao repentino congelamento dos hemisférios norte e sul do planeta que dão início a um período glacial antecipado por uma conjuntura de fenômenos climáticos.
A visão da ciência
“Não é tudo mentira nem catastrófico demais, a hipótese científica básica do filme de fato existe, mas é o menos provável que aconteça”. Foi com essa ressalva que o professor Emerson Sales deu início a sua aula sobre mudanças climáticas.
O professor optou por antes de entrar nas críticas e opiniões sobre o filme, explicar como acontece um período glacial. Para isso, foi necessário relembrar à plateia teorias aprendidas ainda no período colegial, como a teoria do “Big Bang” e da Termodinâmica. Além destas teorias, Emerson Sales apresentou os movimentos terrestres, conhecidos como ciclos de Milankovitch, que a cada 100.000 resfria a terra à uma temperatura média de 7º (a temperatura média atual do planeta é de 14º), o que permite a expansão das camadas de gelo por logas extensões geográficas.
Amplificadores e a ação antrópica
A ocorrência do período glacial também depende da ação dos gases do efeito estufa, do efeito Albedo (capacidade que a superficie terrestre tem de refletir a radiação solar) e dos Aerossóis (materias particulados que se encontram em suspensão na atmosfera terrestre), chamados de amplificadores. No filme a ação dos amplificadores é definitiva para o acontecimento do novo período glacial, segundo o pesquisador, existem fósseis que comprovam que este resfriamento instantâneo pode ocorrer, mas, que maioria das hipóteses científicas considera improvável que ocorra algo similar durante a era atual, o Heloceno.
Sales lembrou a todos que estes ciclos climáticos acontecem há milhões de anos, mas que a ação antrópica vem alterando, por exemplo, nos níveis de gases do efeito estufa e no número de aerossóis encontrados na atmosfera. “Medições feitas por cientistas mostram que nunca houve mais de 200 ppm (parte por milhão) de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera terrestre e hoje com a ação humana já chegamos à marca de 400 ppm”, alertou. Ainda segundo o pesquisador existem cientistas climáticos que defendem a hipótese de que a interferência humana já foi suficiente para impedir que nos próximos 400.000 anos não aconteça resfriamento no planeta.
“Um período glacial seria relativamente bem vindo, desde que não fosse instantâneo como no filme. Caso as previsões destes cientistas se confirmem a temperatura média do planeta vai subir ao ponto de causar a savanização da Amazônia e a extinção da corrente Termoalina (corrente marinha responsável pela distribuição de calor através dos oceanos), isso tornaria nossa existência inviável”, destaca Sales.
*Estudante de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom