Para um dos Fundadores do PT, o governo não auxilia a classe social trabalhista, mas faz caridade aos pobres e governa para os ricos
Por Lara Perl*
laralinsperl@gmail.com
A Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (Ufba) encerrou o evento de comemoração dos seus 70 anos, na sexta-feira (17), com um convidado especial: Francisco de Oliveira, mais conhecido como Chico de Oliveira, um dos mais importantes intelectuais que representa a esquerda no país.
Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), ele critica a gestão do ex-presidente Lula e desenvolve sua ideia, que considera irônica, sobre uma hegemonia às avessas, na qual um governo de esquerda desvia-se do conflito de classes, transformando os trabalhadores em sócios do capitalismo.
Professor aposentado do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Chico de Oliveira esteve no Salão Nobre da Reitoria da Ufba, acompanhado do professor de Ciência Política, Jorge Almeida, e do coordenador do evento e diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, João Carlos Salles Pires da Silva, ambos da Ufba.
O pensador esquerdista considera que a resistência à hegemonia na ditadura deu origem a uma contra hegemonia, que também se configurou no período neoliberal de Fernando Henrique Cardoso na presidência.
A originalidade do pensamento de Chico de Oliveira está na análise do Governo Lula que, segundo ele, deu continuidade à política de FHC, mas com um discurso diferente. “Essa mudança foi o que deu origem à hegemonia às avessas, um governo que realiza o programa do adversário, ao invés de ampliar o espaço de socialização da política”, conclui ele.
Francisco de Oliveira não acredita que o fato de o governo estar auxiliando os pobres e distribuindo o Bolsa Família significa uma redistribuição da renda, já que o dinheiro vem do tesouro público brasileiro e não dos mais ricos. “Lula foi o presidente mais privatista da história”, analisa.
Segundo Oliveira, o governo não auxilia a classe social trabalhista, mas faz caridade aos pobres e governa para os ricos. Suprir apenas as questões materiais não combate o problema, que poderia ser resolvido através de um trabalho com a “direção moral”, ou seja, os valores dos oprimidos. “O êxito do capitalismo é o que possibilita a inversão hegemônica. O ideal das classes dominantes se tornou o ideal das classes dominadas”, conclui. O pensador diz que “Lula da Silva tirou Dilma Roussef do bolso do colete”, para dar continuidade a um projeto que transformou apoio popular em capital financeiro.
Apesar do pessimismo no discurso, o bom humor e a ironia estiveram presentes na fala de Francisco de Oliveira. Em entrevista concedida à TV Ufba após a conferência, ele declara que luta por uma alternativa através de encontros como este no ambiente universitário.
Entre as diversas obras do sociólogo, se destaca “Crítica à razão dualista”, clássico de 1972, atualizado em 2003 para explicar o tipo de capitalismo que se configurou no Brasil, através da obra “Ornitorrinco”, que relaciona a situação do país a uma evolução improvável.
Em 2010, a editora Boitempo publicou o livro “Hegemonia às Avessas”, coletânea de diversos autores, cujo artigo principal é de Francisco de Oliveira sobre o tema da conferência.
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