Colóquio Internacional no Reino dos Festivais acontece no auditório do PAF III
Por Adriana Santana e Marília Moura*
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O Colóquio Internacional no Reino dos Festivais teve início hoje pela manhã no Pavilhão de Aulas da Federação III (PAF III), no Campus de Ondina. O evento reúne convidados nacionais e internacionais em torno da discussão sobre a efetividade dos festivais de cultura, fazendo um paralelo entre as experiências do Brasil e da França. O colóquio faz parte da programação do Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (FIAC/BA) e segue com a programação até amanhã.
A mesa de abertura contou com as presenças da presidente da Comissão Organizadora e professora da Escola de Teatro da Ufba, Deolinda Vilhena; do secretário executivo do Ministério da Cultura (MinC), Vitor Ortiz; do pró-reitor de Pesquisa, Criação e Inovação da Ufba, que compareceu como representante da reitora Dora Leal, Marcelo Embiruçu; o diretor da Escola de Teatro da Ufba, Daniel Marques; o diretor da Faculdade de Comunicação (Facom/Ufba), Giovandro Ferreira; o Cônsul Geral da França para o Nordeste, Patrice Bonnal; o diretor do FIAC/BA, Felipe de Assis, e o diretor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC/Ufba), Sérgio Farias.
Deolinda Vilhena iniciou falando sobre a sua aproximação com o mercado e o desejo de trazer para a universidade a discussão sobre as cadeias produtivas do teatro. “Logo após tomar posse como professora da Ufba cadastrei o projeto do colóquio na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e de imediato procurei os diretores do FIAC, que acolheram muito bem a ideia. Da mesma maneira, busquei integrar três unidades da universidade – a Escola de Teatro, a Facom e o IHAC – e procurei apoio na Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult/Ba) e na Embaixada da França”. Deolinda mencionou os envolvidos no projeto e destacou a articulação entre as instituições.
Vitor Ortiz disse que um evento como este não é importante só para a Bahia, mas para o país, pois “os festivais de teatro tem cumprido um papel muito importante, ao se conformarem como porta de entrada para espetáculos internacionais e também porta de saída para que a produção brasileira circule”. Daniel Marques ressalta que “o intercâmbio de espetáculos deve ser saudado e, nesse sentido, a Escola de Teatro tem sido parceira de eventos como o FIAC e o Festival Latino Americano de Teatro da Bahia (FILTE) ”. Para Daniel, “os festivais promovem a oxigenação da produção local, além do intercâmbio de ideias e da reflexão teórica”.
Patrice Bonnal evidenciou a cooperação entre a França e o Brasil e lembrou do Ano do Brasil na França, programa que agendou no ano de 2005 diversos eventos culturais brasileiros em território francês. “O programa foi muito importante para os países e traçou novas perspectivas de articulação internacional”, aponta.
Felipe de Assis falou da importância do colóquio para o FIAC, ressaltando que “o desejo é que o festival traga não apenas espetáculos, mas que amplie a discussão e reflexão”.
Festivais – A conferência de abertura do Colóquio, intitulada Panorama e importância dos festivais na Europa, foi proferida por Bernard Faivre d’Arcier, que ocupou o cargo de diretor do Departamento de Teatro e Espetáculos do Ministério da Cultura da França (1989-1992) e foi diretor do Festival de Avignon (1979-1984/1993-2003). Durante a conferência, Bernard d’Arcier reconstruiu a trajetória desse festival e compartilhou sua experiência enquanto ex-diretor do mesmo.
História – O Festival de Avignon foi criado pelo ator e diretor francês Jean Vilar e acontece há 64 anos na cidade de Avignon, no sul da França. Desde o início, o Festival ocupou o palácio papal existente na cidade, onde viveram sete papas. É um dos mais antigos festivais franceses e, segundo Bernard d’Arcier, foi o primeiro a ser realizado ao ar livre. O palestrante chegou a brincar, afirmando que o palácio não seria um bom local para realizar espetáculos teatrais, provavelmente ele se referia à acústica do lugar, uma vez que as peças são encenadas ao ar livre. Bernard relatou que, inicialmente, a programação do Festival mesclava espetáculos clássicos, textos de personalidades do teatro francês e peças de dramaturgos emergentes. “O Festival de Avignon transformou o fazer teatral, pois, através dele, Vilar conseguiu aproximar o público do teatro e, assim, o Festival passou a ser também um espaço de discussão”, declarou. Com o passar do tempo, incorporou outras linguagens artísticas e atualmente a programação inclui espetáculos de dança, concertos e exposições.
Transformações – Embora o público majoritário ainda seja o mesmo – o feminino –, o Festival de Avignon passou por algumas mudanças ao longo de seus 64 anos. Quando esteve na direção do Festival, Bernard buscou internacionalizá-lo através da realização de coproduções e cooperação com diretores teatrais de outros países. Ele também ressaltou importantes características que o Festival desenvolveu no decorrer de sua história. Para exemplificar, ele citou a fidelização do público (e frisou que tão importante quanto mantê-lo é renová-lo), explicou que Avignon também é um festival de criação, pois, incentiva o desenvolvimento de produções inéditas. Para o palestrante, o Festival tornou-se um importante ponto de encontro de diferentes gerações, de companhias de dança e teatro e também formou um espaço de troca de ideias, entre políticos e representantes do meio cultural. Bernard d’Arcier adiantou para os participantes do Colóquio que, em 2014, o Festival vai passar por uma experiência semelhante a um retorno às origens, pois, novamente terá um artista como diretor, o ator e dramaturgo, Olivier Py.
Considerações – Para concluir sua explanação, Bernard Favre d’Arcier apontou aspectos negativos relacionados ao Festival de Avignon do qual foi diretor. Segundo ele, o festival ainda possui um orçamento frágil e pode impedir o crescimento de outros festivais porque capta praticamente toda a atenção da França, “Avignon se tornou algo elefantíaco”, declarou. Em suas considerações finais ele destacou que a chave para a realização de um festival é encontrar um diretor artístico que possa conduzir a produção com independência para realizar as ações planejadas e que busca construir uma relação dialética com o público, algo que, na visão de Bernard, não é construído através de eventos hiper midiatizados de curta duração, mas através de iniciativas que tenham uma duração que possibilite a construção dessa relação com o público.
A programação do I Colóquio Internacional no reino dos festivais continua amanhã (25), segundo e último dia das conferências, mesas-redondas e debates.
*Estudantes de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
parabens pela cobertura, obrigada