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Atualizado em 26 DE setembro DE 2011 ás 23:51

Exposição “Circuitos Arqueológicos” é resultado de parceria entre Ufba e Ipac

Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre da Chapada Diamantina é o primeiro projeto no qual um órgão do Estado é parceiro da Ufba no intuito de trabalhar a temática

Por Marília Moura*
marideologia@gmail.com

A exposição Circuitos Arqueológicos que passou por municípios da Chapada Diamantina e agora está em Salvador, em cartaz no Centro Cultural Solar Ferrão, é um dos resultados do Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre da Chapada Diamantina, desenvolvido desde 2010, pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (Ufba). O trabalho de pesquisa e mapeamento dos sítios é coordenado pelo professor do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), Carlos Etchevarne. Este é o primeiro projeto no qual um órgão do Estado é parceiro da Ufba com o intuito de trabalhar a temática dos sítios arqueológicos. O trabalho realizado resultou na elaboração de roteiros de visitação que incluem sítios rupestres e outros bens patrimoniais. A exposição tem visitação até 23 de outubro, de terça a domingo, das 10h às 18h, nos finais de semana e feriados, das 13h às 17h.

Membros da equipe do Ipac e da Ufba na Chapada Diamantina.

Movido pelo objetivo de promover o desenvolvimento sustentável das localidades envolvidas através do reconhecimento e valorização do patrimônio cultural da região, o Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios Arqueológicos foi realizado em três etapas. Inicialmente foi feita a identificação dos sítios, buscando conhecer o estilo gráfico e o nível de conservação das pinturas rupestres e verificando a possibilidade de inclusão no roteiro turístico da região. Em seguida, a equipe do Programa iniciou a identificação de lideranças locais a fim de estabelecer parcerias que viabilizassem ações para transformar a percepção das comunidades sobre esse patrimônio. Por fim, foi elaborado um planejamento para dinamizar a economia local, fazendo com que os Circuitos Arqueológicos operem de modo sustentável e sejam incluídos na rota do turismo cultural na Bahia.

Arte Rupestre em Morro do Chapéu .

Exposição Circuitos Arqueológicos – Dessas atividades de educação patrimonial resultou a exposição Circuitos Arqueológicos, que conta com a curadoria da coordenadora de ações educativas do Ipac, Ednalva Queiroz, apresenta o resultado de 15 meses de trabalho das equipes da Ufba e do Ipac. O acervo da mostra é formado por fotos dos participantes da oficina de fotografia, objetos conservados na oficina de conservação de objetos antigos, painéis com fotos dos bens que integram os circuitos, como pinturas rupestres e exemplares arquitetônicos dos municípios, além dos roteiros turísticos que foram elaborados. Durante a visitação, também é possível conferir além dos vídeos sobre trabalhos arqueológicos, os vídeos sobre a Chapada Diamantina (cedidos pelo IRDEB) e os vídeos produzidos pelo Ipac.

Exposição "Circuitos Arqueológicos".

Circuitos – Foram mapeados 57 sítios e desenvolvidos roteiros de visitação em seis municípios da Chapada Diamantina: Lençóis, Palmeiras, Iraquara, Wagner, Seabra e Morro do Chapéu. Em cada cidade foi elaborado um circuito de visitação, com exceção de Morro do Chapéu, que possui dois roteiros. Embora o foco do Programa seja a identificação e preservação do patrimônio arqueológico, os circuitos incluem atributos naturais, culturais e arquitetônicos desses lugares, identificados através de um levantamento dos bens da região. “Nos circuitos foram considerados elementos que pudessem enriquecer a visita, ainda que o objetivo principal seja conhecer um sítio com pinturas rupestres, o visitante pode passar por um povoado com arquitetura do século XIX, por uma igreja do período da mineração, uma cachoeira ou um alambique tradicional”, declarou o arqueólogo Carlos Etchevarne, que também destaca o potencial artesanal e gastronômico das áreas próximas aos circuitos como fatores que foram considerados para a elaboração dos roteiros de visitação.

Construção - O professor e coordenador do Programa explicou que a elaboração dos circuitos envolveu pessoas do grupo de pesquisa Bahia Arqueológica, registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), estudantes de graduação da Ufba e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que participaram das visitas de identificação e caracterização, assim como das aulas de educação patrimonial que o grupo realiza permanentemente nas comunidades. Em relação a esse intercâmbio local, Etchevarne declarou que “um dos princípios deste trabalho é o envolvimento dos membros das comunidades em todas as etapas do Programa. Nada foi realizado sem a intervenção deles”, afirmou. Para alcançar essa meta foram realizados seminários intensivos de capacitação, visitas de experiência de campo, aulas de manejo de instrumental, aprendizado de preenchimentos das fichas de registros, entre outras ações que visavam formar agentes patrimoniais.

A implementação dos sítios arqueológicos à rota turística acontece por meio da análise de seu potencial turístico, são considerados fatores como seu grau de conservação, a acessibilidade e a segurança. Outros elementos relevantes são “as características dos painéis de pinturas rupestres enquanto motivo de interesse, ou seja, grau de impacto visual, informações arqueológicas inferidas, dimensões, entre outros”, destacou o professor. O último passo do processo de elaboração dos circuitos é o estudo das vias de comunicação com outros locais que sejam interessantes do ponto de vista natural, histórico, religioso e gastronômico e a verificação das possibilidades de reuni-los em um único itinerário.

Segundo Carlos Etchevarne, durante esse processo o principal desafio é “sensibilizar o staff administrativo municipal e convencê-los que conservar, pesquisar e bem gerir os sítios arqueológicos de pinturas e gravuras é importante para o município por várias razões, incluindo as econômicas”. O professor ainda destaca que essa parceria entre a Ufba e  Ipac é “um passo a frente para valorização dos sítios arqueológicos, não somente como documentos históricos das populações anteriores à chegada dos portugueses, mas também para a autoestima dos grupos contemporâneos por se descobrirem habitantes de um espaço com um passado histórico digno e particular. Afinal as pinturas rupestres são códigos gráficos de grande difusão e que serviam muito eficazmente para as populações se comunicarem entre si.”

Professor Etchevarne e o diretor do Ipac Frederico Mendonça.

Conhecimento - A idade das pinturas rupestres é uma das habituais perguntas feitas pelos visitantes dos sítios arqueológicos.  No entanto, o professor Etchevarne esclarece que datar essas pinturas é uma atividade difícil, pelo fato de elas serem, em sua maioria, feitas de pigmentos minerais, materiais que ainda hoje não são datáveis. Segundo ele, para estimar o período de criação das pinturas é necessário escavar nos locais com pinturas, onde isso é possível, para obter materiais datáveis como o carvão, por exemplo. No município de Morro do Chapéu, na Toca da Figura, a equipe do Programa encontrou, durante uma escavação, uma fogueira com blocos de hematitas usadas para produzir tinta. “Como o painel tem vários estilos gráficos, temos que efetuar análises químicas entre o bloco de hematita e as pinturas para saber a qual delas o bloco corresponde. A professora Conceição Lage da Universidade Federal do Piauí (UFPI), virá com um equipamento especial que faz leitura química in loco”, explicou o professor.

Sobre o atual estágio da pesquisa arqueológica no estado, Carlos Etchevarne afirma que em comparação com outros estados, inclusive do Nordeste, a Bahia está em desvantagem. “Temos trabalhado muito, mas ainda temos que pesquisar. O potencial arqueológico da Bahia é imenso e só conhecemos uma pequena porção dele. Preocupa-nos muito o acelerado processo de desaparição dos sítios, em função das  frentes econômicas que avançam rapidamente no interior do estado e que destroem os remanescentes arqueológicos”, alerta o professor.

Educar para preservar – O Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre buscou envolver os membros das comunidades que fazem parte dos Circuitos Arqueológicos em todas as fases do processo. No material de divulgação do Programa, o Ipac afirma que “não há preservação sem a atuação da comunidade próxima aos sítios” e que “não existe proteção sem conhecimento do que deve ser protegido”. Segundo a coordenadora de ações educativas do Ipac, Ednalva Queiroz,  a ação preservadora do Estado deve ter caráter formador, orientador e regulador e a ação educativa deve ser contínua, permanente e voltada para a comunidade. Desse modo, seria possível disseminar a ideia de que a preservação do patrimônio também é responsabilidade dos cidadãos.

Oficina I de conservação.

As atividades de educação patrimonial desenvolvidas no Programa visavam formar agentes patrimoniais e multiplicadores da noção de preservação. Por isso, foram realizadas ações de mobilização e sensibilização como palestras, oficina informativa sobre arqueologia e pintura rupestre, oficina de Conservação Curativa de Objetos e Papéis, mini cursos de educação patrimonial para formadores de opinião, entre outras ações. Para atrair o público jovem, foram feitas oficinas de fotografia direcionadas para pessoas a partir dos 14 anos.

Próximos passos – Segundo o professor Etchevarne, as próximas ações do Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre são as de implementação dos Circuitos. Serão desenvolvidas ações para criar as condições físicas de visitação como a sinalização dos locais que estão inclusos no roteiro, melhoramento da circulação, criação de centro de acolhimento, preparação de guias para atuar nas rotas, entre outros aspectos. Por enquanto, apenas o circuito de Lençóis, na Serra das Paridas, está razoavelmente equipado e já pode ser visitado.

Serviço

Exposição Circuitos Arqueológicos

Onde: Centro Cultural Solar Ferrão (Pelourinho)

Visitação: até 23 de outubro, ter a dom, 10h às 18h, fins de semana e feriados, 13h às 17h

Quanto: Grátis

Contato: 71 3117-6480 / 71 3117-6357 / ascom.ipac@ipac.ba.gov.br

Realização: Ipac / SecultBA / Ufba

*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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