Desenvolvida pela Escola de Teatro da Ufba, a pesquisa investiga o teatro como uma atividade político-econômica
Por Adriana Santana*
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Analisar a relação da criação e produção em artes cênicas com diferentes atores políticos e econômicos da sociedade é o objetivo da pesquisa Um certo olhar sobre a pré-encenação e a encenação: o espetáculo teatral como empreendimento político-econômico-social. Ela é coordenada pelo doutor em Artes Cênicas e professor da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gláucio Machado. Iniciada em julho de 2011, a pesquisa terá duração de dois anos. O objetivo é que as investigações realizadas sejam aplicadas na organização de novos conteúdos para o ensino superior de artes cênicas.
A proposta é estudar o teatro como uma atividade, assim como qualquer outra. “É importante, nesse sentido, olhar o teatro não como atividade cultural, mas como atividade. Pra ele acontecer, o que eu preciso? Preciso de ator, diretor, cenógrafo, figurinista, às vezes eu posso dispensar um ou outro, mas o que eu não posso dispensar? Alguém que consiga as coisas”, aponta Gláucio. A investigação dá continuidade aos resultados da sua pesquisa anterior, intitulada Encenação: práticas de ensino e caminhos para a sustentabilidade. O pesquisador trabalha com noções de administração e gestão cultural para observar os eventos teatrais. “Parto do pressuposto de que se você quer realizar um espetáculo teatral, faz parte da natureza dessa realização buscar recursos físico-financeiros, seja num nível mais profissional, seja num núcleo familiar, por exemplo. Isso é do pilar das artes cênicas, mas a gente dentro de uma escola de Artes é que insiste em perceber apenas determinados aspectos da atividade das artes cênicas”, afirma Gláucio.
Gláucio diz que os resultados da pesquisa anterior indicam que “a gente está ensinando Artes Cênicas de um jeito errado. A gente precisa trazer conteúdos de gestão para o curso de Artes Cênicas”. O professor afirma que é necessário haver um diálogo entre as faculdades dentro da Ufba, principalmente entre a Escola de Teatro e a Escola de Administração, pois “para o ator ou diretor seria importante que ele já tivesse feito discussões sobre gestão”. “Cursos superiores de Intepretação e Direção Teatral, em geral, estão dentro de Institutos Superiores de Artes, logo, a sua volta, existem outras escolas de Artes. O Brasil herdou uma tradição norte-americana e inglesa, de ter um curso de Direção e Interpretação na universidade. Isso é muito especial e a gente tem que saber aproveitar isso”, indica.
Fazer o profissional de artes cênicas se pensar como um agente econômico-político-social se constitui como outra preocupação de Gláucio, pois, segundo ele, “historicamente, na mais profunda tradição das artes cênicas, o artista deve possuir um talento para conseguir produzir o que ele faz. O ator e o diretor que saem dessa Escola ainda é muito mais preparado para encontrar alguém que vá empregá-lo, do que batalhar pelo projeto que ele quer fazer. E ele não encontra alguém que vá empregá-lo em Salvador, então vai ter que ir para Rio de Janeiro ou São Paulo. Se eu consigo preparar essa pessoa para se pensar como alguém que empreende no lugar onde está, eu consigo mudar a realidade teatral daquele lugar”, conclui Gláucio.
Veja entrevista exclusiva com o professor Gláucio Machado.
*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom