Pesquisa concluiu a primeira fase do projeto que vislumbra dar maior visibilidade a manifestação cultural presente na Bahia
Por Vagner Campos*
vagnercampos85@gmail.com
O samba de roda é uma das manifestações culturais mais ricas do estado, recebendo nomes diferentes a depender do local. Em Salvador predomina o samba corrido e as influências urbanas, sendo talvez o estilo mais conhecido no cenário cultural. No entanto, o samba-corrido é apenas um dos variados sambas de roda presentes na cultura baiana.
No litoral norte da Bahia, o forte mesmo é o samba chula, também chamado samba de viola e samba amarrado, presente na região que abrange Maracangalha, São Francisco do Conde, Terra Nova, Teodoro Sampaio, Saubara, Santiago do Iguape e principalmente Santo Amaro.
As chulas são pequenas canções que tratam dos temas da vida, através de pequenos contos, relatam conflitos e as complicações da paixão, além de retratarem aspectos do dia-a-dia e definir regras e alertas para quem precisa ouvir. Os temas cantados estão relacionados ao amor, dando ênfase à visão do homem sobre a mulher, assim como sobre o próprio samba e a atuação da viola, por relacionar uma forte ligação entre os homens que tocam e as mulheres que sambam.
Partindo do objetivo de criar um quadro no qual seria mapeada a prática do samba chula, a pesquisa Samba Chula: Mosaicos Mestiços no Corpo que Dança, do grupo de pesquisa Corpo Brincante – Estudos Contemporâneos das Danças Populares, coordenado pela professora doutora, Eloisa Leite Domenici, busca analisar os modos particulares sobre como ocorre e como se estrutura essa prática cultural no estado da Bahia. Segundo a pesquisadora, “o interesse surgiu pelo contato com o Samba Chula e percebendo que é um estilo menos conhecido e cheio de ricas particularidades expressivas. Ele é mais conhecido na região do Recôncavo, mas encontramos diversos grupos no litoral norte da Bahia”.
Veja o vídeo do projeto Samba Chula: Mosaicos Mestiços no Corpo que Dança.
A pesquisa se aprofunda nos conhecimentos sobre o samba de viola, identificando o mesmo como a principal forma de manifestação de samba na região. Partindo de seu caráter inovador, o projeto debate sobre as maneiras de ocorrência do samba de roda e de que forma elas se dão, além de suas ligações com o sagrado e com a cultura local, assim como as dificuldades que os grupos encontram para manter suas tradições.
Manter as tradições inclusive é uma das maiores dificuldades encontradas pelos grupos de samba do litoral norte. Pressões para mudanças no jeito de fazer o samba por parte da influência da cultura globalizada, bem como forte pressão de igrejas evangélicas para afastarem os fiéis da prática do samba, são apenas alguns dos problemas. Outras peculiaridades importantes na maneira de se fazer o samba, tanto em relação ao ritmo quanto às dinâmicas corporais da dança, são aspectos que também merecem atenção.
A professora Eloisa ainda destacou que as maiores dificuldades encontradas “decorreram do fato da distância geográfica das localidades que estudamos. Nossa metodologia de pesquisa parte do convívio com os sujeitos que produzem o samba e isso demanda várias visitas. Muitas vezes as coisas ocorrem de maneira diferente do planejado, pela própria dinâmica das comunidades. Estivemos em localidades variadas e em diferentes situações, de festas públicas a festas restritas, que ocorrem no interior das casas, em locais remotos. Foram várias viagens com muita poeira, estrada de chão, buracos… É diferente de pesquisar em um laboratório… Mas a riqueza que encontramos é muito grande, compensa o esforço”, relatou Eloisa Domenici.
O samba de roda da Bahia foi reconhecido como obra prima do patrimônio imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação. a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2005. Naquela ocasião, coordenados pelo professor doutor, Carlos Sandroni, uma equipe de pesquisadores realizou um mapeamento em cidades do Recôncavo baiano, que resultou na publicação de um dossiê de candidatura, que descreve o samba de roda, tais como instrumentos, música e coreografia. Esta é a publicação mais recente a respeito do samba de roda da Bahia, a ocorrência do samba de roda em outras regiões não foi ainda estudada, embora ela ocorra.
Com caráter mais etnográfico, a primeira etapa da pesquisa Samba Chula: Mosaicos Mestiços no Corpo que Dança, obteve como resultados registro em vídeo de rodas de samba da região e de entrevistas com mestres e sambadores, descrição e análise das principais dinâmicas corporais, além da análise da ocorrência do samba de roda nas localidades supracitadas. Esse material recolhido é de importância fundamental para a próxima fase do projeto, a qual envolverá a articulação dos conhecimentos obtidos com a experimentação cênica.
A professora Eloisa afirmou que os próximos planos para o projeto, “serão publicar os resultados e seguir apoiando esses grupos na medida do possível. Faz parte de nossa atuação tentar contribuir para a sustentabilidade dos grupos. Fizemos contatos deles com a Secretaria Estadual de Cultura e também entregamos a eles os registros em vídeo”, concluiu a pesquisadora.
*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
muito importante o resgate e a preservação de nossas tradições.isso é vida,vibração,alegria.que se divulgue nas escolas,universidades.a importancia cultural..para que as crianças e jovens possam usufruir.deste grande patrimonio cultural de nossa linda bahia..SamBahia..