Evento contou com intensa participação do público e de estudiosos de todo o país
Por Vagner Campos*
vagnercampos85@gmail.com
Partindo de uma ideia que surgiu há pouco mais de seis meses, o Grupo de Pesquisa em Interações, Tecnologias Digitais e Sociedade (GITS), que compõe o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), realizou nos dias 13 e 14 da última semana, o Simpósio de Pesquisa em Tecnologias Digitais e Sociabilidade (Simsocial).
Consolidado a partir do compartilhamento com grupos de pesquisadores de todo o país, o Simsocial teve a inscrição de 130 trabalhos que, apesar da convergência no que tange a tecnologia digital, eram extremamente diversificados, tratando aspectos relacionados as relação entre conceitos de Marx e Freud com o ciberespaço, o movimento “happyrock” no Twitter e as mais recentes inovações do Facebook.
O evento teve intensa participação do público, tanto nas palestras como nos grupos de trabalho e mini-cursos. Muitas vezes lotando o auditório da Faculdade de Comunicação da Ufba, o público, apesar da utilização de um telão em outro espaço, se espremia nos corredores e espaços disponíveis do recinto para acompanhar de perto os pesquisadores e seus trabalhos. Muitos dos presentes estavam munidos de notebooks, tablets e smartphones, contribuindo ainda mais para o cenário tecnológico com postagens na rede em tempo real sobre tudo que ocorria.
Primeiro dia marcado pelo sotaque italiano e o tempero do acarajé
Depois de breve apresentação do Simsocial, realizada pelos integrantes da mesa de abertura o coordenador do evento e do GITS, professor José Carlos Ribeiro, coordenador do Grupo de Pesquisa em Cibercidades, o professor André Lemos e o coordenador do Programa de Pós-Graduação em comunicação e Cultura Contemporâneas da Ufba, professor Edson Dalmonte, aconteceu a conferência de abertura do evento com o tema Redes Sociais na Internet, realizada pelo pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Massimo di Felice.
Di Felice defendeu que, no atual momento, é impossível pensar a rede como uma relação meramente instrumental, como apenas um meio utilizado pelo homem para determinados fins específicos, mas sim, como uma relação bilateral, de troca entre os agentes, já que “a essência das redes, não está nas redes. Não é possível observar as redes, mas interagir com elas”, afirmou o pesquisador italiano.
O pesquisador ainda abordou o papel fundamental da Ufba como centro de pesquisas da cibercultura, da crise do pensamento sociológico sobre o social, além da iminência da ruptura no que tange o conhecimento.
Depois de Massimo, a mesa foi ocupada por três professores da Ufba para que abordassem a temática Ampliação do Uso das Mídias Sociais: Desdobramentos Possíveis. O primeiro a falar foi o coordenador do Simsocial e do GITS, professor José Carlos Ribeiro. O pesquisador relatou seu desconforto em relação aos problemas de abordagem em relação a esse fenômeno e destacou o uso das redes sociais no sentido da auto-apresentação.
Em seguida, a professora da Faculdade de Comunicação da Ufba, Malu Fontes, deu continuidade ao debate. Na sua exposição, Malu destacou as perspectivas no jornalismo a partir das redes sociais e de que forma isso se refletia nas mídias convencionais. Falou ainda dos movimentos sociais que tiveram forte apelo nas redes sociais, como a Primavera Árabe, as manifestações estudantis no Chile, além dos acontecimentos em Nova Iorque e Londres.
O professor do curso de psicologia da Ufba, Fabrício de Souza, ficou com a incumbência de fechar a mesa redonda. Ele destacou a ampliação da capacidade de comunicar através das redes. O integrante do GITS explanou ainda sobre o sentimento de pertencimento, comunidade e identidade muito visíveis nos nichos das redes sociais.
Durante a tarde, o evento continuou com a apresentação dos mais diversos grupos de trabalho, agradando aos mais diversos públicos. No início da noite, depois dos GT’s, o evento ofereceu uma confraternização regada ao tempero baiano do acarajé, finalizando as atividades do primeiro dia do simpósio.
Segundo dia do Simsocial ratifica o sucesso da iniciativa
Passado o primeiro dia, foi a vez da pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernanda Bruno, apresentar para um auditório mais uma vez lotado, a palestra O que diz um traço digital pessoal? Monitoramento, saberes e redes socio-técnicas.
Destacando inicialmente as ações humanas genéricas, Fernanda apontou que os atos são sempre passíveis de deixar vestígios que possuem natureza ambígua. A pesquisadora seguiu nessa linha para elucidar a questão dos rastros digitais, afirmando ainda que, diferente do campo natural, na esfera digital todas as ações geram vestígios que podem ter utilidade tanto para os propósitos policiais/comerciais, quanto para os propósitos políticos.
Fernanda Bruno ainda levantou importantes questões no que tange os rastros digitais no Brasil. Através de infográficos, ela identificou que para a justiça brasileira, a internet remete diretamente a crimes digitais, pedofilia e pornografia. Outra questão interessante foi o fato de que segundo uma pesquisa que identificava o quão feliz era o conteúdo dos tweets de cada país, o Brasil aparecia como um dos mais proeminentes.
A manhã do segundo dia de Simsocial teve prosseguimento com os mini-cursos, que foram coordenados pelos pesquisadores, Thiago Falcão, Tarcísio Silva, Marcel Ayres, Luís Adolfo Andrade e Yuri Almeida. No início da tarde, os grupos de trabalho voltaram à pauta do evento novamente e seguiram até às 16 horas, quando começou a palestra Entretenimento e Redes Sociais, com a pesquisadora da UFRJ, Simone de Sá.
Com muito bom humor durante toda a palestra, Simone ressaltou a seriedade da temática entretenimento, fazendo uma crítica em relação a noção desse conceito, além de assumir o papel de sintetizar o que havia sido o evento até aquele momento.
Para a pesquisadora carioca, “a noção de entretenimento deve lidar com elementos fundamentais para a construção social”, citando casos como o do funk no Rio de Janeiro e mesmo a apropriação da música pelos usuários nas redes sociais. Simone afirmou ainda que as plataformas das mídias sociais são extremamente relevantes como elemento heterogêneo, sendo que pensar essas relações é um grande desafio, devendo-se levar em conta também a questão da linguagem.
Dessa forma, o Simsocial foi finalizado, deixando em todos que estiveram presentes um sentimento de dever cumprido, além de uma perspectiva de prosseguimento dessa ação em anos posteriores. O coordenador do GITS e do Simsocial, José Carlos Ribeiro, fechou o evento agradecendo a todos que estiveram envolvidos “pela insistência na tentativa de entender como se dão os fenômenos tecnológicos na contemporaneidade”, concluiu.
*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom