O simpósio foi realizado na Universidade Salvador, na tarde de ontem, 07, e reuniu especialistas no tema. Eles apontaram os possíveis benefícios da maconha para a saúde humana e ressaltaram a importância da realização de mais pesquisas no país
POR MARINA ARAGÃO*
marinaaragaosilva@gmail.com
A Cannabis sativa L., popularmente conhecida como maconha, tem se destacado pelo seu caráter medicinal. Estudos apontam que a substância auxilia e ameniza os sintomas de doenças como esclerose múltipla, mal de Parkinson, epilepsia e glaucoma. Entretanto, apesar de apresentar um caráter terapêutico muito antigo, a maconha ainda permanece ilegal em diversos países.
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina autorizou, em 2014, a prescrição médica do canabidiol (CBD) para crianças e adolescentes portadores de epilepsias resistentes a tratamentos convencionais. Desde 2015, o CBD foi removido da lista de substâncias perigosas e regulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em 2016, o tetraidrocanabinol (THC) também foi autorizado. Em janeiro deste ano, a Anvisa aprovou o primeiro medicamento à base de CBD e THC, o Mevatyl.
Já no último mês, o órgão incluiu a planta in natura, e não apenas os seus compostos separados, na lista oficial de fármacos Denominações Comuns Brasileiras (DCB). No entanto, segundo a Anvisa, a medida não é uma autorização ou reconhecimento da Cannabis como planta medicinal. Para isso, há ainda a necessidade de se definir e regulamentar parâmetros, procedimentos de extração, síntese, produção e uso da planta.
Para tentar esclarecer mais sobre este assunto, a Universidade Salvador (UNIFACS) – campus Paralela, realizou na tarde de ontem, 07, o simpósio “Uso medicinal dos canabinoides”, que tratou dos possíveis benefícios da maconha para a saúde humana. Organizado por estudantes do curso de Farmácia da instituição, o evento contou com as presenças dos farmacêuticos Ébano Augusto, Bruna Dallaqua e Juliana Azevedo e da professora de Psicofarmacologia da UNIFACS, Marlene Miranda.
Miranda afirma que a principal dificuldade enfrentada para o progresso da Cannabis medicinal se dá a partir da rejeição da sociedade e do despreparo da classe médica em relação à substância. “O problema maior é a resistência do senso comum e o desconhecimento dos médicos. Eles preferem lidar com aquilo que conhecem”, afirma.
O vice-presidente da Associação Multidisciplinar de Estudos sobre Maconha Medicinal (AMEMM), Ébano Augusto, refere-se à maconha como “substância milagrosa” ao destacar a capacidade da substância de trazer melhorias para pacientes com determinadas doenças, como esclerose lateral amiotrófica (ELA), mal de Parkinson, câncer e esclerose múltipla.
Segundo Augusto, as pessoas precisam ser educadas para o uso das drogas – entender quais os seus riscos, consequências e características. Para ele, a ilegalidade é uma forma de controle que impede a regulamentação da substância e a educação do indivíduo. “Existe uma barreira de preconceito que precisa ser rompida entre os médicos, a mídia e, principalmente, a população”, ressalta.
A farmacêutica Bruna Daqualla abordou o caráter estrutural e químico da Cannabis. A substância possui mais de 400 substâncias ativas, entre elas, o CBD e o THC, seus principais canabinoides. Além disso, explicou como a maconha interfere no corpo humano, podendo afetar a coordenação e o equilíbrio do indivíduo.
A especialista em Farmacologia, Juliana Azevedo, falou a respeito da atuação da substância em determinadas doenças, ao trazer melhorias e progresso no tratamento de pacientes. Segundo Azevedo, a maconha não pode mais ser tratada como última alternativa de intervenção. Mas, para isso, é preciso haver mais estudos, e, consequentemente, regulamentação. “Para legalizar, além de dinheiro, precisamos de acesso para pesquisa”, conclui.
*Estudante da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura