A vida no Recanto Peixinho sempre teve como princípios norteadores a educação e a religiosidade. Veja mais na quarta matéria da série especial Nordeste em Pauta de autoria da jornalista e ativista ambiental Liliana Peixinho
POR LILIANA PEIXINHO*
lilianapeixinho@gmail.com
Toda a comunidade é irmanada pelo espírito coletivo. Uns ajudando os outros, em princípios Ubuntu – Sou porque somos. Vivências e práticas religiosas, missas, novenários, grupos de animação, participação em pastorais, catequeses com crianças e jovens, celebrações e terços em família, assim como a consagração dos alimentos, integram as atividades coletivas, durante todo o ano.
Dona Nice, por exemplo, desenvolve a catequese de crianças, jovens e adultos da comunidade. Em dias certos da semana, ela ajuda a coordenar as atividades que envolvem leituras sagradas, reza em terço, reuniões, ensaios de peças teatrais religiosas, além do agendamento para a participação em eventos associados a datas como Festa de Reis, Semana Santa, Festa de Santo Antônio, São João, Mês de Maria e Finados, Natal, em um calendário religioso onde toda semana tem atividade coletiva. As crianças se envolvem com alegria e, depois dos trabalhos, é hora das brincadeiras e do lanche, servido no quintal, ao ar livre, na cozinha e outros espaços usados pela comunidade.
A consagração dos alimentos é ritual sagrado respeitado. As refeições são feitas de forma coletiva e compartilhadas, em grupos. Normalmente, são servidas na área social da “Casa Mãe”, que é a primeira construção do Recanto Peixinhos e a base da família Bento e Nice. Quando, no entanto, os eventos receptivos mobilizam dezenas de participantes de fora, as refeições são compartilhadas na sede da Associação, que funciona numa área, ao centro da comunidade, para onde todos os habitantes locais convergem para os constantes encontros.
A Associação tem estrutura muito boa, com fogão, liquidificador, panelas, utensílios diversos de porte semi-industrial. Tem máquinas de selagem de adesivos para produtos, impressoras, computador, máquina fotográfica, materiais como madeiras, ferros, entre tantos outros que são utilizados de forma coletiva em parcerias comunitárias. Nesse espaço, são desenvolvidas várias ações: preparo de produtos como a multimistura, coleta, armazenagem, embalagem e arrumação para o transporte e venda de mel, entre outras atividades produtivas para a captação de recursos indispensáveis à manutenção do projeto.
Em uma declaração, em livro, do Padre Peixinho, sobre os rituais sagrados, referenciais para sua vida de prática cristã, ele diz: ¨Minha mãe, uma guerreira, como todas as sertanejas. Tornou-se professora, mas sua motivação primeira era ver os filhos educados, junto com eles, os filhos dos vizinhos. Fazia isso, constantemente, contra a vontade do esposo que, inclusive, aprendeu a ler algumas palavras e assinar o próprio nome depois que se casou com ela. Soube incluir os filhos surdos, hoje todos casados e levando uma vida “normal”. Todavia, além da educação escolar e familiar, ela nos educou na fé e religiosidade: via-sacra, novena de natal, encontro do mês da Bíblia, terço em família, catequese, missas no povoado mais próximo (lembro com saudades da festa da Padroeira Santa Luzia – Povoado Raspador).
Assim, com esses rituais sagrados, a família alimenta o cotidiano de forma harmoniosa, unida e com todos participando e partilhando tudo. As parcerias com as Pastorais são permanentes. Tanto representantes do Recanto Peixinhos, quanto das Pastorais de municípios da região, como Heliópolis, participam de reuniões e ações comunitárias.
Jornalista, ativista, Especializada em Jornalismo Científico e Meio Ambiente. Fundadora e coordenadora do Movimento AMA. MIDIA ORGANICA. REAJA. RAMA. Colaboradora de diversas mídias especializadas em Jornalismo Ambiental.
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