Newsletter
Ciência e Cultura - Agência de notícias da Bahia
RSS Facebook Twitter Flickr
Atualizado em 24 DE março DE 2014 ás 18:54

Vinho baiano atua como cardioprotetor

Bebida produzida no Vale do São Francisco contém até 18 vezes mais substâncias benéficas que os importados, diz estudo da Univasf

EMANUELA TEIXEIRA*
emanuela.ascom@yahoo.com

Pode a prática de exercícios físicos aliada à ingestão moderada de vinho tinto trazer benefícios ao organismo? Segundo pesquisa do laboratório de fisiologia do exercício da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), algumas substâncias dos vinhos – encontradas em maior concentração nos produzidos na região do Vale do São Francisco – contribuem para a diminuição da pressão arterial,proporcionam maior resistência do sistema cardiovascular e o aumento do colesterol bom, o HDL.

Intitulada “Exercício aeróbico e suplementação de vinho”, a pesquisa foi desenvolvida em parceria com a Empresa Brasileira de Indústria Agropecuária Embrapa Semiárido e teve início em 2012.

Foto Emanuela Teixeira

Doutor em educação física pela Universidade Católica de Brasília, o professor da Univasf e coordenador da pesquisa Ferdinando Oliveira Carvalho explica que o objetivo era verificar se a alta concentração de substâncias como o resveratrol, polifenóis e taninos, encontrados em grande quantidade na uva shiraz cultivada no Vale do São Francisco, poderia influenciar no melhor desempenho cardiovascular dos voluntários.

A pesquisa contou com a colaboração da professora do curso de enfermagem da Universidade Federal do Vale do São Francisco Melissa Negro Luciano, além de oito alunos do curso de educação física.

Resveratrol

“Pesquisas anteriores mostraram que os vinhos do Vale do São Francisco contêm até 18 vezes mais concentração de resveratrol, se comparados a outros produzidos no Chile, Argentina, Europa e sul do Brasil, o que chamou a nossa atenção, por isso resolvemos investigar os seus efeitos, associados à prática do exercício físico”, explicou.

O enólogo e pesquisador da Embrapa Semi-árido Giuliano Elias Pereira explica que nos parreirais, o resveratrol tem a função de proteger as plantas de determinados tipos de estresses físico e ambiental.

“Nas áreas de cultivo do semiárido brasileiro, as altas temperaturas e a pouca chuva que são características peculiares da região, aliadas à prática de interromper a irrigação quando os frutos estão próximos ao ponto de colheita, fazem com que as plantas acelerem seus mecanismos de defesa e produzam mais compostos biológicos,como o resveratrol, a quercetina e a rutina”, esclarece.

Para a realização da pesquisa, 40 voluntários com idade entre 18 e 35 anos foram preparados por meio de avaliações clínicas, coleta de sangue, monitoramento cardíaco e teste de corrida na esteira, para determinar a intensidade com que cada um deveria treinar.

Foto Emanuela Teixeira

Os participantes, que se inscreveram, obedeceram a alguns pré-requisitos determinados pela pesquisa, a exemplo de não serem hipertensos, nem fumantes e não fazerem uso de anabolizantes.

Em seguida, os voluntários foram divididos em quatro grupos: o primeiro consumia diariamente 250 ml de vinho tinto da variedade shiraz, com teor alcoólico de 13%, e realizava 45 minutos de exercícios aeróbicos na esteira três vezes por semana a 75% da velocidade máxima estimada.

O segundo grupo treinava, mas não tomava a bebida; o terceiro somente ingeria o vinho tinto e não fazia qualquer atividade física; o quarto grupo não treinava e não realizava a suplementação com o vinho.

Durante três meses, foi possível verificar que o grupo que consumiu o vinho e praticava exercícios regularmente obteve maior dilatação dos vasos sanguíneos e consequentemente a estabilização da pressão arterial e proteção cardiovascular em um índice 30% superior em relação àqueles que faziam exercícios,mas não tomavam o vinho.

“Em alguns casos, observamos que em apenas cinco minutos após beber o vinho e o início da atividade física, a pressão arterial de alguns indivíduos diminuía, produzindo melhor desempenho durante o exercício”, diz o pesquisador.

O grupo que somente ingeriu o vinho e manteve-se sedentário também obteve melhora no quadro cardíaco, porém em menor percentual. Já o grupo que não ingeriu vinho e não praticou exercício físico não manifestou qualquer alteração.

Carvalho enfatiza que o consumo da bebidas se destinou à realização da pesquisa e não como incentivo ao consumo de vinho seguido da prática do exercício físico.

Para o pesquisador, pelos percentuais em que são encontradas as substâncias nos vinhos locais, leva-se a crer que o consumo de vinhos tropicais do Brasil pode ser mais benéfico à saúde do que outros elaborados nas zonas de clima temperado. “Concluímos que temos um produto com potente ação vasodilatadora e também capaz de reduzir o mau colesterol (LDL) e aumentar o bom colesterol (HDL) graças à grande concentração do resveratrol e de outras substâncias. Por isso pretendemos continuar a pesquisa, visando a outro perfil de indivíduos”, afirma o pesquisador.

Nova etapa avalia efeitos sobre pessoas hipertensas – O professor Ferdinando Oliveira Carvalho explica que a próxima fase da pesquisa, que deve começar em maio, vai abranger pessoas hipertensas com o objetivo de verificar se os mesmos efeitos benéficos podem ajudar e equilibrar a pressão arterial.

Outro grupo a ser estudado será o público feminino. “Existem fatores fisiológicos da mulher que inicialmente não conseguimos controlar bem, como o período menstrual, quando é observado um aumento da quantidade de água corporal. Isso pode interferir no processo de análise da pesquisa”.

Caso a mulher venha a menstruar na semana da avaliação, “pode ocorrer erro nos resultados que não estariam relacionados nem ao vinho, nem a prática de exercícios, e sim a uma questão hormonal”, diz o pesquisador.

Características únicas – O Vale do São Francisco apresenta características peculiares. O clima é caracterizado como tropical semiárido. A temperatura média anual está em torno dos 30° C com uma média de 500 milímetros de volume de chuvas, concentrada entre os meses de janeiro e abril.

Trata-se da única região do mundo que produz uvas o ano todo, sendo cultivadas e colhidas em duas safras. Segundo o enólogo da Embrapa, Giuliano Elias Pereira, o clima quente e seco pode explicar a diferença na concentração de elementos químicos entre os vinhos do semiárido e aqueles processados nas zonas temperadas.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *