Na Bahia, há uma série de pesquisadores que já desenvolvem interessantes projetos que unem educação e ciência. Um dos exemplos é o Projeto Ciência, Arte & Magia, coordenado pela bióloga da Ufba, Rejâne Lira, em parceria com professores e estagiários de graduação de diversas áreas.
*Fabiana Mascarenhas
mascarenhas.fabiana@gmail.com
Idealizado pelo neurocientista paulista Miguel Nicolelis, o Centro de Educação Científica do Semiárido, terceiro do país e um dos mais renomados do mundo, está em funcionamento desde junho de 2010. Sua estrutura conta, entre outras coisas, com quatro laboratórios de ciência, que recebem alunos no turno oposto ao que eles frequentam suas aulas em escolas municipais e estaduais, a partir da 5ª série. Dos 1600 estudantes inscritos, 400 já foram selecionados.
O Centro de Educação Científica de Serrinha, como ficou conhecido, faz parte da meta do neurocientista de criar 12 escolas deste tipo no Brasil.
Além de dois outros belos exemplos em Natal e Macaíba, no Rio Grande do Norte, Nicolelis coordena o laboratório de Neurociências da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, onde desenvolve estudos sobre o cérebro e lidera um grupo de cientistas.
A inauguração de uma Escola de Educação Científica na Bahia, sem sombra de dúvida, é de extrema importância para o Estado, já que é uma forma de estimular os alunos da rede pública de ensino a desenvolver suas aptidões. O mérito se torna ainda maior por ter sido inaugurado em uma região semiárida, onde a possibilidade de acesso a equipamentos e toda a estrutura necessária para se atingir esse objetivo só é possível a partir de iniciativas como esta.
Não podemos deixar de destacar, no entanto, que há no próprio Estado uma série de pesquisadores que já desenvolvem interessantes projetos que unem educação e ciência. Um dos exemplos é o Projeto Ciência, Arte & Magia, coordenado pela bióloga da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Rejâne Lira, em parceria com professores e estagiários de graduação de diversas áreas.
O Ciência, Arte e Magia é um programa de criação, implantação e manutenção de experimentotecas, que tem o objetivo de racionalizar o uso de material experimental por professores e alunos da rede pública de ensino, desenvolvendo a sua criatividade para a realização de experimentos científicos e, mais do que isso, redimensionar suas concepções sobre o processo ensino-aprendizagem. Um projeto que, junto com o do próprio Nicolelis, foi considerado pelo Ministério da Educação um dos cinco projetos modelo no país.
Além deste, há outras iniciativas em instituições de Salvador e algumas regiões do estado. Mas, enquanto o governo estadual investiu R$ 5 milhões no Centro encabeçado por Nicolelis, pesquisadores locais, infelizmente, não têm tido a oportunidade de contar com recursos dessa dimensão.
O neurocientista foi responsável pela descoberta de um sistema que possibilita a criação de braços robóticos controlados por meio de sinais cerebrais. O trabalho está na lista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) sobre as tecnologias que vão mudar o mundo. A pesquisa colocou o brasileiro como forte candidato ao prêmio Nobel.
Ao ser questionado por esta repórter sobre a questão, durante entrevista coletiva no dia do lançamento do Centro de Educação Científica do Semi-Árido, o governador do Estado, Jacques Wagner, afirmou que os cientistas baianos são, sim, contemplados. Segundo ele, os recursos têm sido disponibilizados por meio dos editais da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) vinculada à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti). “Os pesquisadores baianos devem submeter tais projetos a esses editais”, afirmou na ocasião.
O que, talvez, o governador não saiba é que esses recursos nem de longe chegam próximo ao valor disponibilizado para a implantação do Centro, o que limita o crescimento e desenvolvimento dos projetos realizados dentro do Estado. E o pior, pesquisadores locais têm submetido a esses editais projetos, que necessitam de recursos que não ultrapassam R$ 20 mil e os mesmos não têm sido aprovados. Qual seria a razão?
É preciso deixar claro que esta crítica nada tem a ver com Miguel Nicolelis, neurocientista respeitado, que merece aplausos por todas as contribuições que tem dado à ciência, mas o alerta é direcionado ao governo do Estado. Afinal, o mérito do renomado cientista não exclui a necessidade de se ficar atento a possíveis investimentos em trabalhos que vêm sendo desenvolvidos na Bahia.
E isso nada tem a ver com bairrismo ou provincianismo, como afirmou Nicolelis, irritado, durante a coletiva de imprensa, mas com a necessidade de se resolver um problema que não se restringe à Bahia: a falta de valorização a iniciativas de cientistas do próprio Estado. Um erro que precisa ser reparado em respeito a esses profissionais e ao desenvolvimento da própria ciência.
*Jornalista pós-graduanda em Jornalismo Científico e Tecnológico pela Ufba
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Terceiro do país, Centro de Educação Científica de Serrinha garante futuro para jovens
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